15º Domingo do Tempo Comum

Mc 6,7-13

“Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!”

Jesus chamou os discípulos e os enviou. Toda vez que Deus nos chama, coloca-nos em viagem. Fez assim com Abraão (levante-se e vá); com o povo no Egito (conduziu-o para fora, no deserto); com o profeta Jonas (levante-se e vá a Nínive); com Israel já instalado na segurança da terra prometida.

Deus vem nos desinstalar de uma vida sentada na poltrona, vida sedentária. Coloca-nos em movimento e nos faz descobrir horizontes que não conhecíamos. Deus nos coloca sempre na estrada e não num lugar fechado. Assim caminhar é um ato de liberdade e criatividade, um ato de esperança e conhecimento: andar ao encontro de si mesmo e dos outros, numa viagem na direção de um outro mundo possível.

Nesse envio, no evangelho desse domingo, Jesus dá 04 orientações:

01. Os discípulos partem dois a dois. Não um a um. E o primeiro anúncio não é transmitido em palavras, mas na eloqüência de caminhar juntos na mesma direção.( tal como amar não é olhar um para o outro mas ambos na mesma direção). Os discípulos partiram dois a dois, não um a um. Quando estamos sozinhos, somos levados a duvidar até de nós mesmos.

02. E lhes ordenou a não levar nada a não ser um bastão. Somente um bastão para apoiar o passo e um amigo para sustentar o coração. Não levar nada porque tudo aquilo que não serve, pesa e porque toda posse nos separa dos outros.

Uma orientação atualíssima sobre a leveza: para caminhar é preciso eliminar o supérfluo e andar rápido. Nem pão,nem sacola,nem dinheiro,nem outras coisas nem mesmo o necessário,contestando radicalmente o mundo das coisas e do dinheiro, do acúmulo e da aparência. Para anunciar um outro mundo possível, é necessário estarmos livres de tudo que é supérfluo: não levar nem pão, nem sacola, nem dinheiro, porque a nossa vida não depende dos nossos bens, mas da confiança em Deus, que não deixará faltar nada,e confiança nas pessoas que abrirão suas casas para o acolhimento.

03. Entrando em uma casa permaneçam ali. O ponto de chegada é a casa, o lugar onde a vida nasce e é mais verdadeira. O evangelho deve ser significativo na casa, tanto nos dias de lágrimas como nos dias de festa. Entrar na casa de alguém nos ajuda a perceber o mundo com outras cores, outros perfumes, sabores,colocar no centro não as idéias mas as pessoas, deixando-nos contaminar pela dor e pela alegria das pessoas.

O ponto de chegada é a casa, não a Sinagoga ou o Templo. Na casa onde é natural a sinceridade do coração… aí Deus nos toca. Nosso cristianismo deve ser significativo ali, na casa, nos dias de festa e nos dias de drama, nos filhos pródigos, quando o amor parece ter acabado e nos separando, quando o ancião perde o raciocínio e a saúde. Lá em casa onde a vida celebra a sua festa e chora as suas lágrimas, no meio do pão e do sal, e a Palavra de Deus é a rocha.

04. Se em algum lugar não escutarem vocês… vão embora; se forem rejeitados, os discípulos não devem ficar ressentimentos, magoados, com raiva, mas somente sacudir o pó das sandálias: haverá uma outra casa mais adiante, uma outra viagem, um outro coração acolhedor.

Jesus nos quer todos nômades de amor, gente que não confia nas contas do banco ou na proteção das paredes da casa, mas no tesouro espalhado por Deus em todas as cidades e aldeias: mãos e sorrisos que abrem portas e restauram corações. S. Marcos termina dizendo que os discípulos partiram, proclamando para as pessoas se converterem, expulsavam muitos demônios, ungiam com óleo muitos enfermos e os curavam.

Deus nos chama e nos coloca em viagem, na estrada, a caminho ( na linguagem de Papa Francisco, “uma igreja em saída”) para curar a vida, para fazer de nós cristãos curadores do desamor, testemunhas da alegria, laboratório de uma nova humanidade. Jesus que foi pobre de tudo mas não de amigos; que não tinha um lugar onde pousar a cabeça, mas tinha casas amigas onde descansar o coração.