Eucaristia: o Sinal do Pão

A festa do Corpo de Cristo, fala-nos da Eucaristia com um grande sinal: o pão. Foi o próprio Jesus a fazer essa escolha. Muitas vezes no Evangelho encontramos esta realidade do pão! Atravessando os trigais na primavera, Jesus descobre neles as gerações dos homens que esperam os operários do Reino: A messe é grande, mas poucos os operários! Duas vezes multiplica o pão para as multidões; fala das migalhas de pão que caem da mesa do rico sem chegar à boca do pobre Lázaro; fala do pão em abundância na casa paterna que passa pela mente do filho pródigo em terras distantes e lhe faz nascer a saudade do Pai; a Igreja é comparada a um recipiente cheio de farinha que espera crescer pela força do fermento. Enfim, Jesus fala de si mesmo como do grão de trigo que deve morrer.

Por que tanta predileção por esta criatura? Talvez Jesus quisesse preparar os homens para o reconhecerem um dia no pão de sua Eucaristia.

São João mostra ter compreendido assim o pensamento de Jesus: Ele tinha multiplicado o pão para falar, dali a pouco, de outro pão. É a lição de cafarnaum: eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo. Portanto, o pão é Cristo: todo o Cristo, sua palavra e sua carne, isto é, seu Espírito como também seu corpo. Tudo isso se realiza de maneira mais forte no sacramento eucarístico, quando o pão que nós ofertamos como fruto e expressão de nosso trabalho, isto é, como sinal do oferecimento de nós mesmos a Deus, é consagrado e devolvido a nós como sinal do dom de Cristo à sua Igreja. Tudo isso se apresenta no sinal, mas é uma realidade; porque a própria realidade existencial e ontológica do pão é transformada no corpo de Cristo. Assim, acontece uma transubstanciação mediante uma transignificação.

Sendo tão importante essa dimensão de sinal que o pão possui, é justo então que procuremos o que sinaliza entre nós o pão, para descobrir de que se torna sinal depois da invocação sobre ele do Espírito Santo após sua consagração. O primeiro sinal é este: o pão é alimento, nutre e dá a vida. Eis então o sinal eucarístico deste pão: a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim… Quem come deste pão viverá eternamente. A Eucaristia é o alimento dos viandantes, isto é, daqueles que, como os hebreus, atravessam o deserto grande e espantoso desta vida.

Há ainda outro sinal, pelo modo com que é consumido, o pão é sinal de comunhão. Paulo no-lo recordou: e o pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo? Uma vez que há um só pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo de Cristo? Uma vez que há um só pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo; em outras palavras, nós entramos em comunhão com Ele e entre nós. Este segundo sinal era mais significativo em outros tempos, quando, diante da família reunida ao redor da mesa, o pai partia o único pão e o distribuía para todos; ou seja, quando não se conservava, como hoje, o uso dos pãezinhos individuais ou o costume de comer em mesas separadas. Que sinal de comunhão se tinha então! Um só pão se tornava carne e sangue, isto é, parte integrante da vida de cada um dos presentes; um vínculo profundo, substancial, de unidade se difundia entre todos os presentes.

O pão sinal de alimento e de comunhão; daqui haurimos hoje motivo para a nossa fé e para a festa do Corpo de Cristo. Mas também para nosso compromisso pessoal. Se muitos de vocês estão doentes e enfermos, dizia São Paulo, é porque se aproximam da Eucaristia sem reconhecer o corpo do Senhor. Também hoje, se há tantos fracos e doentes na comunidade cristã, é porque não nos alimentamos, ou nos alimentados mal, do Corpo de Cristo. São muitos os que se queixam dizendo que certos preceitos de Cristo (amar os inimigos) são difíceis, ou até impossíveis para o homem. Têm razão: são difíceis; mas Cristo nos deu a maneira de torná-los possíveis e fáceis: sua carne, sua vida.

Dela nos nutrimos com alegria, dando graças a Deus que nos sacia de verdade “com a flor do trigo”.