Maria permanece junto à cruz de Jesus

Durante a Quaresma, ao fazer a Via-Sacra, recordamos o gesto de Maria de estar junto à cruz de Jesus no dia de sua morte. Esta Mãe e Mulher apareceu no início da missão de Jesus, em Caná (Jo 2,1-11), levando seus discípulos a acreditarem nele. Agora, volta de novo à cena. Dessa vez, no final de sua vida pública, mas não há nenhum sinal extraordinário.

Ao contrário, o momento da cruz desafia a fé de qualquer um. Maria faz parte do pequeno grupo que perseverou, que não fugiu no momento da perseguição e da crucifixão de Jesus. É a corajosa companheira de Jesus, que permanece no seu amor. Imaginamos que se manteve de pé, o que significa persistência, constância na adesão.

Junto com Maria há outras mulheres: sua irmã, Maria de Cléofas, e Madalena. Sobrou somente um homem, o “discípulo amado”, que a tradição cristã identificou com o jovem apóstolo e evangelista João. Estas cinco pessoas representam a comunidade cristã, o grupo dos que seguem até o final os passos de Jesus, como seus discípulos, companheiros e amigos (Jo 15,15).

Uma qualidade importante do seguidor de Jesus é a perseverança, ou seja, o compromisso de vida que se prolonga no tempo, enfrentando e vencendo as crises. Em outros momentos, Jesus já havia dito: “Permanecer em mim e eu nele” (Jo 6,56; 15,4) ou “permanecer no meu amor” (Jo 15,9). Ele desejava estabelecer uma sintonia profunda, uma comunhão de mente e de coração com a sua comunidade. Este é o sentido da imagem da videira e dos ramos (15,1-11).

Como também: “Se vocês permanecerem na minha palavra, serão verdadeiramente meus discípulos. Vocês conhecerão a verdade, e a verdade fará de vocês pessoas livres” (cf. Jo 8,31s). Jesus promete: “Se vocês permanecerem em mim e as minhas palavras permanecerem em vocês, peçam o que quiserem, e o Pai lhes concederá” (Jo 15,7). Na primeira epístola de João, também se diz desta atitude de vida, que é constantemente renovada: “Quem pretende permanecer nela deve também percorrer o caminho que Jesus andou” (1Jo 2,6).

Ora, Maria permaneceu ao lado de Jesus na cruz porque andou no mesmo caminho dele durante toda a vida. No início, como mãe e educadora, era ela que fazia o caminho, que dava a direção e orientava. Depois, quando Jesus se tornou adulto e partiu para a missão, Maria não ficou em casa curtindo a saudade nem interferiu na sua atuação. Ela participou da nova família de Jesus, daqueles que escutavam sua palavra e a colocavam em prática (Lc 2,22).

Manter-se junto à cruz é um gesto silencioso e profundo. Quando a dor é muito grande e a situação não tem explicação, não adianta tentar falar ou explicar. Basta a presença. Em sintonia com Jesus, a fé de Maria é provada no momento de crise da morte de Jesus, de sua passagem para o Pai. Ela, com as mulheres e o discípulo amado, são os únicos que perseveram nesta situação tão difícil. Permanecem com Jesus e em Jesus. É certo que este momento significou uma grande dor para Maria. Mas a perseverança tem mais importância do que simplesmente sofrer.

Fonte: A12 / Nos Passos de Maria (Revista de Aparecida)