Faltavam poucos dias para o natal. Os supermercados tinham suas prateleiras repletas dos mais variados panetones, das mais diversas marcas de biscoitos, das artísticas embalagens de chocolates, dos mais saborosos vinhos e demais artigos alimentícios. Os açougues mostravam em seus congeladores e vitrines os mais variados tipos de carne, tudo envolto naquela poeirinha branca de gelo bem sugestiva do natal europeu, coberto de neve. Até no Mercado Municipal havia mais opções de saborosas compotas e queijos.
Eu estava em minha casa, mais precisamente na cozinha, diante de uma vasilha cheia de talheres em posição vertical para escorrer. Peguei um deles e veio-me de repente a ideia de transformá-lo em uma obra de arte. O que fazer deles? Pensei… pensei e decidi: farei um presépio diferente.
Terra fértil para ser plantada existe e braços para semear também. Mas a injustiça social gera a falta do essencial para o sustento… Há preguiça? Será mais fácil estender a mão para pedir que arregaçar as mangas para trabalhar? É tudo tão complexo!… Se divido meus bens aos pobres, me transformo num deles e não soluciono o problema… Novamente pensei… e pensei. E concluí a mensagem. É como dizia a Beata Madre Teresa de Calcutá: – “Faço o que posso. O resto, não é comigo”…
Pronto. Minha obra estava pronta. Totalmente despojada, simples e pobre. Não possuía nenhuma beleza mas era para mim rica de significados; interrogações, preocupações, desolações. Parei. Contemplei-a.
Se você tivesse que dar um nome à esta obra, que nome daria?… Eu dei a ela o nome de “Presépio da fome”.