Vocação: Qual o chamado?

No desenvolver de nossa caminhada existencial somos marcados por questionamentos que ajudam a construção de nossa personalidade e por conseguinte, modelam nosso ser em busca de um enfoque, uma finalidade existencial. Caminho este que somente nós, seres humanos, no âmbito de nossa subjetividade podemos construir e levar adiante.

Cada ser humano encontra seu papel no mundo a partir de uma busca incessante de sentidos. A história de vida de cada homem e mulher é marcada por inúmera possibilidades, que devem ser concretizadas à medida que optarmos por algo em nossa vida. Não somos seres prontos e acabados, estamos em um processo de construção que se desenvolve lentamente à medida que nos abrimos a um ideal ou verdade que assumimos como proposta. A escolha é portanto o eixo central de todo nosso processo de crescimento humano.

A Igreja, por sua vez, unifica esses inúmeros sentidos de vida em um único vocábulo: vocação. Tal palavra advém do verbo latino vocare que significa chamar. Vocação é pois um chamado. O que a expressão quer traduzir plenamente é que cada ser lançado na esfera terrena é chamado dar um resposta. Todo chamado implica numa resposta. Na perspetiva eclesial todo ser humano é vocacionado primeiramente à vida, e por conseguinte ao batismo que nos irmana e sela nossa personalidade de uma proposta que visarão encontro do bem. Portanto, toda e qualquer escolha que fazemos posteriormente à nossa entrada para comunidade de fé, que é a Igreja, deve levar em consideração tais pontos de referência, que são os fundamentos de nossa fé.

O mundo, por sua vez, cerca-nos de uma pluralidade de “verdades” que são geradoras de conflitos internos. Não sabemos quais caminhos percorrer. Há caminhos opostos ao evangelho que nos são nítidos, mas, há também aqueles que se revestem de uma sutileza tamanha, que ao tomarmos contatos com os mesmos somos enganados. Pensamos estar na perspectiva correta, mas, na realidade o que se torna concreto são os contra-testemunhos do reino. Diante de uma realidade marcada por essa pluralidade, diante das inúmeras propostas acarretadas pela contemporaneidade, a pergunta que se faz não é qual vocação a seguir, mas, como seguir a verdadeira vocação mediante realidade tão complexa?

O documento de Aparecida no seu sexto parágrafo fala acerca de uma visão antropológica a partir do viés teológico da encarnação. O homem para se tornar pleno deve partir do pressuposto da Revelação de Jesus Cristo, fonte e origem de toda compreensão acerca da perfeição humana. Três termos se articulam nessa visão antropológica: vocação – dignidade – destino. Em Jesus Cristo o homem encontra sua vocação, sua dignidade e seu destino. Três palavras que se articulam e moldam a compreensão do homem frente nossa atual realidade. O Cristo, pelo mistério de sua encarnação, revela todas as principais características, ou melhor, as principais vocações que o homem, na sua busca de realização no mundo deve seguir. O evangelho é portanto fonte de todas as vocações. A verdade que o mundo tanto anseia deve estar centrada e eminentemente correlacionada com a perspectiva messiânica apontada nas Sagradas Escrituras, sobretudo nos dizeres do Mestre.

Nenhum ofício, trabalho ou missão desempenhados por nós seres humanos, sejamos nós bispos, padres, diáconos ou leigos, podem ser desvinculado da proposta salvífica do reino. A vocação que desempenhamos deve sempre ser arraigada nos ditames que palavra de Deus evoca. Mas, é importante ressaltar que a vocação sublinhada pelo Mestre é aquela que vai de encontro ao próximo. Os dons a nós concedidos, não por nosso mérito, mas por graça divina, devem estar a serviço do irmão. Poderíamos dizer que além da vocação a vida e ao batismo, nós temos uma terceira dimensão: a vocação do encontro. A doação dota de sentido a finalidade pela qual o homem foi criado e agora é destinado. Talvez por isso em Mateus, precisamente no capítulo 25, o relato da proposta do Reino compara esta realidade com a do homem que distribuiu o talento aos servos e espera deles a multiplicação dos mesmos. O talento, aqui entendido por vocação, não deve ser enterrado em nossa subjetividade, ou estar exclusivamente a nosso serviço. A vocação deve estar a serviço do próximo, para que tais dons superabundem, se multipliquem e por conseguinte se tornem fonte salvífica para todos que o recebem.

Nesse mês vocacional a Igreja conclama seus filhos queridos a pautarem com mais critério toda escolha, seja ela individual ou comunitária, levando sempre em conta a proposta dignificadora de Jesus Cristo. Uma vocação fundamentada sobre a rocha, seja ela qual for, estará sempre em consonância com Reino manifestado na Boa Nova de Jesus Cristo, centro maior de nossa fé e de nossa ação no mundo. Que a cultura do encontro, tão sonhada por nosso Papa Francisco, seja acolhida em nosso meio eclesial e seja fonte inspiradora para todas as pastorais, movimentos e concretizada acima de tudo nas famílias de nossa sociedade.