(Mc 6,1-6)
“Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares.”
O evangelho de hoje começa e termina com duas admirações: a primeira é a admiração do povo de Nazaré: “De onde lhe vem tanta sabedoria e esses prodígios?” A segunda é a admiração de Jesus: “ficou admirado com a incredulidade deles.” Esta passagem nos ensina que nem a sabedoria nem os milagres são suficientes para fazer a fé nascer; na verdade, é a fé que faz florescer os milagres.
Jesus cresceu na oficina de um carpinteiro. Suas mãos se tornaram fortes de tanto apertar os cabos das ferramentas, seu nariz cheirava a resina de tanto colar as peças, e ele sabia reconhecer o tipo de madeira. Muitas vezes, em nosso íntimo, não admitimos um Deus tão humano assim e pensamos: “Deus poderia se revelar escolhendo outros meios, mais altos, mais elegantes, mais nobres!” No entanto, o evangelho nos mostra que Ele era, para o povo de Nazaré, motivo de escândalo.
A humanidade de Jesus escandaliza. Um Deus tão próximo não é fácil de entender. Mas esta é a boa notícia do evangelho: Deus tem um rosto humano, o Verbo (a 2ª pessoa da Santíssima Trindade) tem a forma de um corpo. Procuramos Deus nas alturas do céu, mas Ele aparece ajoelhado por terra, aos nossos pés, com uma bacia de água e uma toalha na cintura.
Em Nazaré, pensavam: “O Filho de Deus não pode ser desse modo, com mãos de carpinteiro, com as dificuldades de todos… Não há nada de sublime, nada de divino.” Contudo, o Espírito de Deus desce no cotidiano, faz das casas um templo, entra pela porta onde a vida celebra a sua liturgia. Assim como os habitantes de Nazaré, também nós somos uma geração que despreza seus profetas e persegue seus homens e mulheres de Deus. Nivelamos tudo por baixo: “É só um carpinteiro, conheço-o bem, conheço seus defeitos tintim por tintim.”
De alguém colhemos apenas aquilo que nos mostra a sombra, os defeitos, e dessa forma apagamos o eterno que se revela no instante presente, no cotidiano, nas criaturas que estão entre nós.
Na conclusão do evangelho, Marcos anota que Jesus não pôde fazer ali nenhum milagre… mas logo em seguida ele se corrige: “somente impôs as mãos a poucos doentes e os curou.” O Deus refutado se faz ainda cura, mesmo que para poucos. O amante rejeitado continua a amar. Seu amor não se cansa: apenas fica admirado. Assim é o nosso Deus: não nutre jamais rancores, nem por quem o rejeita, pois Ele perfuma de Vida a nossa vida.


								




