Mc 6,7-13
“Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!”
A liturgia deste 15º Domingo do Tempo Comum nos apresenta um trecho do Evangelho de São Marcos (Mc 6,7-13), onde Jesus chama os Seus discípulos e os envia em missão, dando-lhes orientações específicas. Esse envio missionário revela muito sobre a essência da nossa fé cristã e nos convida a refletir sobre a nossa própria missão como discípulos de Cristo.
Jesus, ao chamar os Seus discípulos e enviá-los em missão, nos recorda que o chamado de Deus é sempre um convite a sair de nossa zona de conforto. A história da salvação está repleta de exemplos desse dinamismo divino: Abraão foi chamado a deixar sua terra (Gn 12,1), o povo de Israel foi conduzido para fora do Egito (Ex 12,37), o profeta Jonas foi enviado a Nínive (Jn 1,2), e o próprio Israel, já estabelecido na Terra Prometida, foi constantemente chamado a renovar sua fidelidade a Deus.
Deus nos desinstala de uma vida sedentária e nos coloca em movimento, desafiando-nos a descobrir novos horizontes e a vivenciar a liberdade e a criatividade de caminhar ao encontro de si mesmo e dos outros. Esse ato de caminhar é, portanto, um ato de esperança e conhecimento, uma jornada em direção a um mundo mais justo e fraterno.
No evangelho deste domingo, Jesus dá quatro orientações aos Seus discípulos:
- Os discípulos partem dois a dois: Jesus envia Seus discípulos em dupla, e não sozinhos. Esta orientação enfatiza a importância da comunidade e da parceria na missão. A caminhada conjunta é um testemunho eloqüente do amor fraterno e da unidade na fé. Quando caminhamos juntos, apoiamo-nos mutuamente e fortalecemos nossa fé, evitando as armadilhas da dúvida e do desânimo.
 - Não levar nada, exceto um bastão: Jesus instrui Seus discípulos a não levar pão, sacola, dinheiro, ou qualquer outra coisa além de um bastão para apoiar a caminhada. Esta orientação sublinha a importância da simplicidade e da confiança em Deus. Em um mundo obcecado pelo acúmulo de bens e pela aparência, somos chamados a viver de maneira leve e desprendida, confiando que Deus proverá o necessário e que as pessoas nos acolherão com generosidade.
 - Permanecer na casa que os acolher: O ponto de chegada dos discípulos é a casa, o lugar onde a vida é mais autêntica e verdadeira. O evangelho deve ressoar nas realidades cotidianas, nos momentos de alegria e de dor, nos dias de festa e de drama. Entrar na casa de alguém é um convite a enxergar o mundo através dos olhos do outro, valorizando as pessoas mais do que as ideias abstratas, e permitindo que sejamos tocados pela sinceridade do coração humano.
 - Sacudir a poeira dos pés se não forem recebidos: Jesus instrui Seus discípulos a não guardarem ressentimentos se forem rejeitados, mas a sacudir a poeira dos pés e seguir em frente. Este gesto simbólico nos lembra que a missão é contínua e que sempre haverá outras oportunidades, outros corações abertos para acolher a mensagem do Evangelho.
 
São Marcos conclui este trecho do evangelho dizendo que os discípulos partiram proclamando a conversão, expulsando demônios, ungindo e curando muitos enfermos. Este relato nos inspira a sermos, também nós, agentes de cura e de transformação, cristãos que curam o desamor, testemunham a alegria e são laboratórios de uma nova humanidade.
Queridos irmãos e irmãs, Deus nos chama e nos coloca em viagem, nos convida a sermos uma “igreja em saída”, como nos exorta o Papa Francisco. Somos chamados a curar vidas, a ser testemunhas da alegria e a construir um mundo onde a fraternidade e a solidariedade sejam a base das relações humanas. Que Jesus, que foi pobre de tudo, mas rico em amigos e amor, nos inspire e nos fortaleça nessa missão.


								




