17º Domingo do Tempo Comum

Jo 6,1-15

“Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam”

Este é o único milagre de Jesus narrado nos 4 evangelhos. Talvez seja por seu significado profundo para as primeiras comunidades após a ressurreição de Jesus.

Todos nós ao meditarmos sobre esse trecho do evangelho pensamos imediatamente ser o milagre da multiplicação dos pães.

Na escola aprendemos em matemática que uma conta de dividir é aquela que tem um dividendo, um divisor, um resultado e, em alguns casos, um resto.

Aqui temos um dividendo: 5 pães e 2 peixes; há um divisor: 5.000 homens, sem contar as mulheres e crianças; há um resultado: todos ficaram saciados; e ainda houve um resto: 12 cestos! Então trata-se do milagre da divisão e não só da multiplicação! Não é a multiplicação que saciará o mundo, mas a divisão.

Não é o acumular, o ajuntar, o possuir cada vez mais que trará a paz ao mundo e aos corações, mas sim o dividir. Dividir não só com quem não tem comida mas também com quem não tem saúde, não tem sua dignidade respeitada, e com quem tem a carteira cheia, cartões de crédito em quantidade mas está com o coração vazio.

Nos 1ºs séculos era inconcebível celebrar a Eucaristia sem levar algo para ajudar os necessitados… e ficamos hoje preocupados criando problemas se devemos receber comunhão na boca ou na mão,se devemos nos ajoelhar ou não. Porém quando falta justiça e solidariedade, quando não se trabalha para mudar a realidade política e social; quando não nos esforçamos para compartilhar os problemas dos que sofrem… a celebração da Eucaristia se esvazia de sentido, por mais que seja celebrada dentro das normas litúrgicas.

Além do que todos os cristãos meditam sobre esse trecho do Evangelho e sua conexão com a Eucaristia, quero fazer algumas observações para nos ajudar na reflexão pessoal:

1. Em resposta à pergunta de Jesus, ” onde compraremos pão para lhes dar de comer?” Filipe respondeu que nem 200 denários seriam suficientes para matar a fome daquelas pessoas. Denário era uma moeda de prata, que era o salário de um dia de um operário. A fração de pão para uma pessoa se alimentar por dia custava 1doze avos (1/12) de um denário. Então o cálculo de Felipe estava certo. Os 200 denários dariam para 4.800 porções de pão. A forma do pão naquela época era como o formato redondo de um prato. (tipo do pão sírio conhecido hoje por muita gente). Ele não era cortado com faca mas partido com a mão para ser distribuído aos comensais.

2. Jesus antes de fazer o milagre, fez uma espécie de inventário do que existia, do que deveria ser colocado à disposição de todos. ( “O que vocês tem ? André responde: há aqui um menino que tem 5 pães e 2 peixes; mas o que é isso pra tanta gente?” )

Também nós devemos verificar, fazer um inventário daquilo que possuímos e ter consciência de que somos convidados a colocar isso à disposição dos necessitados. Com Cristo as multiplicações acontecem somente dividindo.

3. 200 denários não são suficientes. Se deixarmos cair em um cofre 01 dólar por segundo durante 50.000 anos se chegaria ao absurdo das despesas gastas para os armamentos de um ano, no mundo. Outro cálculo: com o custo de um porta-avião se poderia construir 30 escolas de 20 classes cada uma. Infelizmente não sabemos transformar as bombas e os mísseis em pão.

4. Recordando a tentação de Jesus no deserto quando o demônio pediu para que Ele transformasse as pedras em pão Jesus se negou a fazê-lo. Porque? Porque transformar as pedras em pão significaria fabricar o pão sem o suor,sem o esforço do trabalho.O pão está ligado não ao milagre mas ao trabalho. O pão adquire dignidade quando tem a marca de fábrica: o suor do homem e da mulher.

Também o nosso pão deve ser um pão dividido, isto é, livre da avidez da posse, da apropriação, para se tornar sinal e sacramento de fraternidade.

5. O segredo da multiplicação-divisão está naquele verbo difícil e mais libertador da gramática cristã: “partir”. Pelo verbo “dar” não chegaremos nunca a encontrar o outro. Somente graças ao “dar-se”, ao “partir” que seremos levados a nos encontrar com o irmão.

6. “Recolhei os pedaços que sobraram para que nada se perca” foi a orientação de Jesus . Sobraram 12 cestos… para nutrir outras pessoas, é preciso recolher o que sobra porque outros ainda têm fome.