Mc 7,1-8.14-15.21-23
“O que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior”
Neste 22º Domingo do Tempo Comum, retomamos a leitura do Evangelho segundo Marcos, com a passagem de Marcos 7,1-8.14-15.21-23. Neste trecho, Jesus confronta os fariseus e os mestres da lei em uma discussão sobre as leis de pureza, que eram uma parte central da vida religiosa na época.
As leis de pureza, descritas nos livros de Levítico (cf. Lv 11,1-15,33), haviam sido amplificadas pelos doutores da lei, criando uma lista extensa de coisas que tornavam uma pessoa “impura” e, consequentemente, a afastavam da comunidade. Essa obsessão pelos rituais de purificação refletia o medo constante de contrair essa impureza e de, inadvertidamente, se tornar inapto para participar da vida religiosa.
Um exemplo específico mencionado no Evangelho é o rito da lavagem das mãos antes das refeições. Originalmente, este preceito estava relacionado aos sacerdotes, que deviam lavar os pés e as mãos antes de se aproximarem do altar para exercer o culto (cf. Ex 30,17-21). Contudo, com o tempo, essa prática foi estendida a todos os crentes, tornando-se um rito obrigatório que não dizia respeito à higiene, mas sim à pureza ritual. O temor era que, ao tocar em algo impuro, essa impureza pudesse ser ingerida juntamente com os alimentos, contaminando o corpo.
Jesus, no entanto, adverte sobre os perigos do legalismo. Para Ele, a absolutização da Lei que os fariseus promoviam contradizia o projeto original de Deus. Uma vivência religiosa que coloca a Lei acima de tudo impede que o crente tenha uma verdadeira experiência de encontro com Deus. As leis têm o papel de guiar, de orientar o caminho, mas nunca devem se sobrepor ao amor e à misericórdia, que são os verdadeiros pilares da fé cristã.
Essa reflexão nos desafia a olhar para a nossa própria prática religiosa e a questionar se, por vezes, não estamos priorizando regras e tradições em detrimento do verdadeiro espírito da fé, que é o amor a Deus e ao próximo. Jesus nos ensina que a pureza que importa é a do coração, e não a obtida pelo legalismo. Que possamos viver uma fé autêntica, que se manifesta em atitudes de amor, compaixão e misericórdia, conforme o exemplo de Cristo.








