Mc 10,2-16
“DEIXAI VIR A MIM AS CRIANÇAS. NÃO AS PROIBAIS, PORQUE O REINO DE DEUS É DOS QUE SÃO COMO ELAS”
O Evangelho deste domingo é retirado de Mc 10,2-16 e narra um embate entre Jesus e os fariseus a respeito da legislação judaica do divórcio. Jesus abandona definitivamente a Galiléia para iniciar o caminho para Jerusalém. Neste caminho, Jesus exerce, como de costume, sua missão de mestre do povo, atraindo multidões que se reuniam ao redor dele. Durante a caminhada Jesus é interpelado por Fariseus que o questionam sobre o divórcio.
Na época de Jesus, existiam duas grandes escolas teológicas que divergiam na interpretação da Lei do divórcio. A escola do Rabi Shamai dizia que o motivo para o divórcio seria a infidelidade. A escola do Rabi Hillel era mais rigorosa, pois o motivo para a separação poderia ser qualquer coisa que pudesse desagradar o marido, por exemplo, deixar queimar a comida. Note bem que não existia um consenso a respeito desta questão.
Jesus é colocado a prova sobre essa questão, como podemos observar no vv. 2: “alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher.”
Jesus se recusa a entrar no debate legal sobre o estatuto do repúdio. Ele não acrescenta uma nova interpretação à lei, mas questiona as justificativas estabelecidas que defendiam a prática do divórcio. Para fazer o questionamento, Jesus, vai às raízes da legislação judaica, e afirma que essa lei foi dada por Moisés por causa da dureza de coração. A expressão dureza de coração indica o coração humano insensível às instruções divinas, como consequência de sua contínua desobediência.
Para refutar a legislação do divórcio, Jesus usa duas citações do Gênesis. No vv.6 lemos: desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Esta perícope está em conformidade com Gn 1,27. No vv. 7-8 temos a seguinte fala de Jesus: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Estes versículos estão em conformidade com Gn 2,24.
Jesus afirma que Deus criou o ser humano como masculino e feminino. Na criação estabeleceu os dois gêneros, que se atraem mutuamente. Não é a mulher que é entregue ao poder do homem, mas trata-se de uma união de duas pessoas destinadas por Deus uma para a outra.
No vv. 9 vemos Jesus dizer “o que Deus uniu o homem não separe” A contraposição entre o ser humano e Deus qualifica, de um lado, a prescrição do divórcio dada por Moisés como norma humana; e, por outro lado, aquilo que está no Gênesis como uma norma Divina que une as pessoas. Assim, Jesus contesta a maneira como a lei patriarcal gera uma divisão na unidade criada por Deus.
O matrimônio é um projeto de amor que implica igualdade de direitos, dignidade e obrigações, e exclui, portanto, toda relação de domínio. Enquanto houver amor, existirá matrimônio e existirá coração para sonhar e para perdoar.
Fontes:
SOARES, Sebastião A. G.; JÚNIOR, João L C.; OLIVA, José. R.. Marcos: Comentário Bíblico Latino Americano. Aparecida: Santuário. 2013.
BIBLIA AVE-MARIA: Edição de Estudos. 13ª ed. São Paulo: Ave-Maria. 2021