4º Domingo da Quaresma

Jo 3,14-21

“Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”

Deus amou tanto o mundo a ponto de entregar seu Filho. Em torno disso dança a história de Deus conosco. Somos amados por Deus. Esta é a alegre notícia que deve ser repetida a cada manhã, ao despertar, a cada dificuldade, a cada desafio, a cada problema que tivermos. Não somos cristãos porque amamos Deus. Somos cristãos porque cremos que Deus nos ama. E esse amor é o oxigênio da vida, que Jesus mostrou, viveu, doou.

É este o fogo que deve entrar em nós, a coisa mais bela, mais atraente, maior, mais necessária, mais convincente e radiosa (Alegria do Evangelho,nº 35) No Evangelho o verbo amar vem sempre acompanhado do verbo dar. Deus amou tanto o mundo a ponto de nos dar seu Filho.

Deus, eternamente, não faz outra coisa, a não ser considerar cada pessoa mais importante que tudo. Deus Pai nos ama como amou Jesus, com a mesma paixão, a mesma fidelidade, a mesma alegria, mesmo com todas as desilusões de não O procurarmos constantemente. Cada um de nós é filho predileto de Deus. Não somente nós somos amados por Deus, mas é o mundo inteiro que é amado: a terra, os animais, as plantas, a criação inteira. E Deus ama o mundo tal como o mundo é. Inacabado, imperfeito, incerto. Cheio de conflitos e contradições. Capaz do melhor e do pior. Deus envolve o nosso mundo com seu amor pelos quatro cantos, de norte a sul.

Podemos deduzir 04 consequências desse amor de Deus:

1) Jesus é a doação, é o presente que Deus fez ao mundo e não só aos cristãos

2) A razão de ser da Igreja é lembrar a todos o amor de Deus.

3) Deus dá ao mundo seu Filho Jesus não para julgar o mundo mas para que o mundo seja salvo por Ele. Então não se pode simplesmente fazer da denúncia e da condenação do mundo moderno o nosso programa de pastoral.

4) Hoje em que tudo parece confuso, incerto, desanimador, cada um de nós como cristão deve introduzir um pouco de amor nesse mundo, como Jesus fez. Introduzir no mundo amor, amizade, compaixão, luta pela justiça nas estruturas sociais, sensibilidade, ajuda aos que sofrem.

E se Deus amou o mundo com sua beleza passageira, então também nós devemos amar o mundo como a nós mesmos, e o amarmos como sendo nosso próximo. O mundo é também nosso próximo. A Deus não interessa abrir processos contra nós, nem mesmo para nos absolver agora ou no último dia.

A vida dos amados não é medida por processos nos tribunais, mas é medida por florescimentos e por abraços. Devemos nos empenhar não para salvar o mundo, pois Deus por meio de Jesus já o salvou, mas devemos nos empenhar para amá-lo; não para convertermos as pessoas, pois é Deus que o fará, mas para amá-las. Para amar suas criaturas, as plantas, as flores, os seus espaços, os seus filhos, o seu verde, a sua beleza, a terra inteira.

Trevas e Luz. A Síria por causa de tantos anos de guerra civil está quase totalmente na escuridão sem luz elétrica, se torna símbolo de uma treva de violência que a envolve e obscurece. Mas o que são as nossas luzes ocidentais? São verdadeiramente luminosas? Porque a luz artificial pode obscurecer a luz verdadeira!

Quanta necessidade temos de uma luz verdadeira. Temos necessidade de uma Luz que nos clareie a esperança de que a vida tem significado. Tem significado não por aquilo que produzimos, mas por aquilo que formos capazes de amar. A Luz veio ao mundo e os seres humanos preferiram mais a escuridão do que a Luz. De onde vem essa preferência pelas trevas? De onde vem essa fascinação pelo nada? O Senhor sabe que nós, seus filhos, não somos maus, mas somos frágeis, nós nos enganamos facilmente. Preferimos a escuridão porque o anjo das trevas é mentira e se mascara de anjo da luz. Promete felicidade, liberdade e ainda seduz, e quase sempre acreditamos e amamos aquilo que julgamos bom para nós sem pensarmos nos outros.

Nesse capítulo 3º do evangelho se fala de um diálogo profundo entre Nicodemos, um fariseu e Jesus. Tal diálogo acontece à noite. Nicodemos, homem medroso, escapa de Jesus entre as trevas da noite. Mas Jesus não o julga, não condena quem não é um herói, respeita o medo de Nicodemos, é paciente com sua lentidão e desse modo o torna o mais corajoso dos discípulos, aquele que terá a coragem de se apresentar a Pilatos para pedir o corpo de Jesus.

As muitas perguntas de Nicodemos e sua dificuldade em compreender o que Jesus lhe dizia são, também, as nossas dificuldades, cansaços e perguntas para compreender, para viver e entender os evangelhos. Fé é crer não tanto que Deus existe, mas crer que Ele nos ama. Fé é crer que a nossa vida se ilumina e se torna luminosa graças ao amor.

Nicodemos vai de noite a Jesus pedir-lhe uma luz para a sua fé. A noite representa bem a escuridão que existe dentro desse fariseu, e que talvez represente também a noite que nós temos e na qual está mergulhado o nosso mundo, cheio de luzes artificiais, mas pobre de luzes espirituais.

Que nosso esforço seja o de vivermos sempre na busca da Luz verdadeira que está a nos iluminar no meio das trevas de nossas dúvidas e dificuldades