Lc 6,17.20-26
“Alegrai-vos, nesse dia, e exultai, pois será grande a vossa recompensa no céu”
O evangelho da missa é retirado de Lc 6,17.20-26. No evangelho vemos Jesus que desce do monte até uma planície onde se detém junto dos 12 apóstolos e uma multidão de outros discípulos vindos de todas as partes para O ouvir. Em seu discurso lemos o anúncio das bem-aventuranças.
A “bem-aventurança” é um gênero literário usado por profetas e sábios e tem por objetivo anunciar uma alegria presente ou uma promessa projetada no futuro. A bem-aventurança é uma declaração solene, feita com a autoridade e a força divina que atua na história para efetuar a justiça.
No versículo 20 do evangelho vemos Jesus dizer: “bem-aventurados os pobres”; este anúncio solene faz eco ao discurso programático proferido na sinagoga de Nazaré. As bem-aventuranças manifestam, numa outra linguagem, o que Jesus já havia dito no início da sua atividade na sinagoga de Nazaré: Ele é enviado pelo Pai ao mundo, com a missão anunciar a boa nova aos pobres.
Nas sentenças que seguem a primeira bem-aventurança, Jesus se reporta aos famintos, aflitos e perseguidos. Todos esses grupos são pobres, ou seja, são pessoas que estão embaixo, dependem dos outros. Nos dizeres bíblicos são os anawim pessoas que não possuem segurança material e social.
Ao proclamar a bem-aventurança Jesus está comunicando que chegou o tempo esperado pelos pobres e débeis; Deus está aqui e intervém em seu favor e, por isso, são felizes. Não são felizes pela situação em que se encontram, mas pelo fato da ação de Deus em seu favor, gerando nas pessoas esperança.
É importante destacar também que Jesus não está dizendo que os pobres são melhores que os ricos. O que o evangelho diz é que Deus é justo e fiel e, por isso, emerge nas situações da história humana, para fazer justiça aos que mais precisam dela. Contudo, a promessa de Jesus não é fazer de todos os pobres ricos; Jesus promete o reino de Deus.
O Reino de Deus terá o seu cumprimento no fim dos tempos, mas já está presente na história. Neste reino, os pobres são confortados e admitidos no banquete da vida, ali manifesta-se já agora a justiça de Deus. Esta é a tarefa que os discípulos de Jesus são chamados a desempenhar na sociedade atual: fazer acontecer a justiça de Deus. Essa justiça acontece por meio da revolução do amor que consiste em dar a vida pelos irmãos, assim como fez Jesus.
Na parte final do evangelho Jesus dirige uma palavra em tom de acusação aos ricos, aos espertos; dizendo: “aí de vós…”. Essas palavras não são uma acusação ou sentença, na verdade, elas têm o intuito de chamar esses grupos para uma verdadeira conversão, uma mudança radical de vida e comportamento, e também, servem de alerta para a comunidade cristã não cair na ilusão da riqueza, do sucesso e do prestígio.
Referências:
BENTO XVI. Um caminho de fé antigo e sempre novo: pregações para o ano litúrgico ano C. Tomo 3. São Paulo: Molokai, 2017.
FABRIS, Rinaldo; MAGGIONI, Bruno. Os evangelhos II. 3 ed. São Paulo: Loyola, 1998.