28º Domingo do Tempo Comum

Mc 10,17-30

 “EM VERDADE VOS DIGO, QUEM TIVER DEIXADO CASA, IRMÃOS, IRMÃS, MÃE, PAI, FILHOS, CAMPOS, POR CAUSA DE MIM E DO EVANGELHO, RECEBERÁ CEM VEZES MAIS AGORA, DURANTE ESTA VIDA E, NO MUNDO FUTURO, A VIDA ETERNA”

No Evangelho deste domingo, encontramos um homem que se aproxima de Jesus com uma questão urgente e existencial: “Bom Mestre, que hei de fazer para alcançar a vida eterna?” (Mc 10,17). A sua atitude de se ajoelhar diante de Jesus indica uma sincera busca por respostas e uma profunda reverência pelo Mestre. Este homem é alguém que, apesar de viver uma vida justa e fiel aos mandamentos da Lei, sente um vazio interior e uma inquietação sobre o verdadeiro sentido da vida.

Jesus, inicialmente, aponta-lhe o caminho já conhecido pelos judeus: a observância dos mandamentos da Lei. “Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe” (Mc 10,19). Esta resposta reflete a tradição israelita de que o cumprimento dos mandamentos é o primeiro passo para estar em conformidade com a vontade de Deus e alcançar a vida eterna. Contudo, o homem responde de forma sincera e convicta que sempre viveu de acordo com essas normas.

Diante dessa resposta, Jesus o olha com amor e reconhece a sua sinceridade. No entanto, Ele não deixa de desafiá-lo a subir a um patamar superior. Jesus o convida a viver uma nova lógica, uma lógica que vai além do simples cumprimento da Lei. Propõe-lhe um caminho de despojamento, de entrega e de seguimento radical: “Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me” (Mc 10,21).

Aqui, Jesus aponta para a essência do Evangelho: a vida cristã não é apenas o cumprimento de regras e preceitos, mas uma entrega total a Deus e aos irmãos. O despojamento dos bens materiais e a solidariedade com os pobres são sinais concretos de que a vida não está centrada nas coisas deste mundo, mas em Deus. Jesus chama aquele homem a uma vida de discipulado, a segui-Lo no caminho do amor e da doação total.

Infelizmente, o homem não está preparado para essa exigência radical. Ele afasta-se triste, porque estava muito apegado às suas riquezas (Mc 10,22). Aqui reside a grande dificuldade que Jesus expõe aos seus discípulos: a riqueza pode ser um grande obstáculo à entrada no Reino de Deus. Não porque os bens materiais sejam maus em si mesmos, mas porque o apego a eles pode escravizar o coração humano, impedindo-o de viver a lógica do Reino, que é a lógica do dom, da partilha, do amor e do serviço aos irmãos.

Jesus, então, aproveita a ocasião para ensinar os seus discípulos sobre as exigências do Reino de Deus. Ele afirma de maneira categórica: “É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mc 10,25). Essa imagem hiperbólica enfatiza a dificuldade de quem está preso ao materialismo e ao egoísmo de aderir plenamente ao projeto de Deus. Contudo, Jesus não deixa os discípulos sem esperança. Quando eles se questionam: “Quem pode então salvar-se?” (Mc 10,26), Jesus responde com uma verdade fundamental: “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus; pois para Deus tudo é possível” (Mc 10,27).

Neste ponto, Jesus nos recorda que a salvação é, antes de tudo, um dom gratuito de Deus. Não é algo que possamos conquistar pelas nossas próprias forças ou méritos, mas é fruto da infinita misericórdia divina. Cabe a nós, no entanto, abrir o coração e estar dispostos a acolher esse dom, renunciando ao que nos prende e nos afasta do amor de Deus e dos irmãos.

Na segunda parte do Evangelho, Pedro, em nome dos discípulos, afirma: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos” (Mc 10,28). Jesus, então, promete que aqueles que renunciam aos bens deste mundo por causa do Evangelho não ficarão desamparados. Ao contrário, eles receberão cem vezes mais em irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, além de perseguições, e, no fim, a vida eterna (Mc 10,29-30). O seguimento de Jesus implica renúncias e sacrifícios, mas conduz a uma vida plena e repleta de sentido, tanto no presente quanto na eternidade.

Este Evangelho nos desafia a refletir sobre a nossa própria relação com os bens materiais e com as seguranças humanas. Estamos dispostos a seguir Jesus com radicalidade? Ou estamos presos às nossas riquezas e confortos, que nos impedem de abraçar plenamente o Reino de Deus? Que o Senhor nos dê a graça de abrir o coração à lógica do Evangelho, onde o maior tesouro não está nas coisas deste mundo, mas no amor e na comunhão com Deus e com os irmãos. Que, a exemplo dos discípulos, tenhamos a coragem de deixar tudo para seguir a Cristo, confiando que Ele é a nossa verdadeira recompensa.