Os “sinos que falam”, da cidade de São João del-Rei, vão silenciar nesta quinta-feira, 28, e dar lugar a um novo instrumento de som: a matraca. Com seu timbre estalado, agudo e explosivo, o instrumento explora sonoramente representar a penitência, sofrimento e dor infligida na crucificação de Jesus Cristo. É “uma forma de expor sua dor” sonoramente. Intercalados entre os toques das matracas, os cantos e cantorias trazem um tom de lamentação anunciando a morte de Cristo.
O instrumento é um idiofone feito uma prancha com dois batedores em formato de chave ”[ ]“ ou da letra “U” fixados um em cada lado. A prancha ao ser agitada seus batedores consequentemente batem contra a madeira, produzindo o som. Herança portuguesa, está presente originalmente nas procissões das igrejas católicas durante a semana santa.


Na Sexta-Feira da Paixão, com o Cristo pendendo no madeiro do calvário, a matraca chora a morte do Filho enviado e ecoa um triste lamento de angústia. O Sábado Santo é o dia do vazio, onde o silêncio deveria falar mais alto. Não há mais esperança, pois a esperança do mundo jaz num sepulcro escavado na rocha. Aqui a matraca lembra a dor do vazio, do nada, da perda e da desolação.
Esse instrumento de som forte e oco só vai poder se descansar na tarde de sábado, cedendo lugar – novamente – para os sinos durante a celebração da Vigília Pascal quando eles são tocados com alegria e júbilo, rompendo todos os silêncios, para aclamar que o Filho de Deus não está no sepulcro, mas ressuscitou.






