Nos dias que antecedem o Domingo da Paixão, existe a tradição, especialmente na Diocese de São João del-Rei, da celebração do Setenário das Dores de Maria Santíssima, que consiste na reflexão sobre as principais dores da Santíssima Virgem na trajetória de vida de seu Filho Jesus e, especialmente, aquelas que lhe advieram por ocasião de sua paixão, morte e sepultamento.
O setenário se alicerça na Palavra de Deus, onde são identificadas as sete dores de Maria, desde a profecia do velho Simeão, até a morte e sepultamento de Jesus Cristo.
Maria transforma sua solidão e sua dor em êxtase de santidade e suas lágrimas não mitigaram a dor por tão grande sofrimento, mas tornou-se participante do mesmo sacrifício de seu Filho, levando-nos a unir-nos às suas dores e às dores de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Virgem Santíssima!
Desce da montanha de tormentos
E deixa por um instante o colóquium com teu Deus,
Colocando-te junto ao teu povo sequioso por teu amor.
No arroubo de teu puríssimo coração,
Manifesta-nos, ó Mãe, a verdade de teu Filho.
Debelas o pecado da história humana
Pela credulidade no Deus de tua fé.
Foste chamada no êxtase do canto angélico
P’ra seres consagrada ao ministério da Cruz.
Ícone da libertação, coração imaculado,
Fizeste da maternidade a coroa da redenção,
Como doação plena ao Deus de tua pureza.
A nobreza da graça ligou-te ao Filho Sagrado,
Para perpetuares no Cristo a humanidade
O Cristo de tuas entranhas puríssimas.
Hoje, Senhora, me prostro ante os afagos teus.
Eis que venho aos enleios do mundo
Com olhos intumescidos de sofridas
Lágrimas. Meu coração em farrapos
Te implora o aconchego materno:
Acolhe-me nos braços, afaga-me em teus seios.
Eis que me deparo, ó Santíssima e Augusta Mãe,
Com teus infinitos pesares, profundas dores:
Vejo a aurora em flor em teus lábios!
Porém, pousa-te nos cílios tenebroso ocaso
Das dores tantas que te rasgam o peito.
Turbada ante o vozerio da plebe audaz,
Tens ainda mãos de calor a acolher-me.
Como te entregas, Senhora, assim abnegada,
Às sete espadas aviltantes da dor!
Fazes delas a oração sublime, o louvor,
Para aquietar os corações dos infaustos.
Inda consagras teu manto que protege e envolve
Este vil coração meu, de fugacidade imbuído.
Tenho dúvidas, Senhora, se sete espadas
Te feriram, ou se uma apenas teu coração
Dilacerou, vinda de Simeão da profecia.
Extrema e precoce agonia, assim considerada,
Do traiçoeiro açoite e caminhada lúgubre
Que levaram ao suplício teu divino Filho.
Sou eu, sem mais, protagonista de acerbos
Infortúnios, no pecado concebido. A lastimar,
Faço, então, de preces esta minha aflição,
Louco por ver-te a sorrir na eterna glória,
E receber de tuas mãos o aconchego a elevar-me
Ao eterno Éden da graça… Busca-me, ó Mãe!
Não ouso o teu rosto fitar, olhar sequer…
Desejo-me cabisbaixo, por terra, em oração talvez…
Neste meu gesto de devoção, de humildade plena,
Lamento a ausência dos amores tantos perdidos
E a ausência dos carinhos pela vida arrebatados,
Para lançar-me na certeza de tua meiguice eterna.
Enfim, Senhora, deixa-me beijar-te as mãos,
Oscular teu rosto umedecido de lágrimas;
Deixa-me sugar o sangue copioso de teus dedos
Que os homens te ofereceram abundante.
Faço desta agonia, no estertor do meu peito,
O sublime momento de, contigo, eternamente amar…