As mães são criaturas especiais, especialíssimas, quase sempre adoráveis. Aí estão elas muitas vezes apressadas, cuidando de mil tarefas antes que o dia acabe, depois que os filhos foram para a cama, antes de rezar uma última reza para a Mãe de Jesus.
Há essa mãe idosa, que é avó e quase bisavó sentada numa poltrona de braços, desfiando as contas de um rosário. Terminadas as cinco dezenas do mistérios da alegria levanta-se. Percorre com vagar os retratos do seus na parede da sala ou em porta-retratos. Detém-se um pouco em Pedro: Pedro pequeno, primeira comunhão, formatura, casamento de Pedro, Pedro e seus filhos… netos da velha senhora… Olha os outros retratos com um doce sorriso dançando em seus lábios… No Natal, no dia das mães, em seu aniversário muitos desses rostos vão chegar trazendo presentes, alegria e júbilo.
Há essa mãe simples, faxineira, que luta para que seus dois filhos continuem a estudar, que o marido possa terminar casinha lá na periferia… uma casa com quintal onde vão plantar hortênsias e margaridas. Todos os dias, ano a fio ela lava banheiros, limpa vidraças faz faxina no cozinha de muitas ilustres senhoras de cabelos azulados.
Há essa mulher que queria ter filhos, muitos filhos, e não pode ter nenhum. Adotou duas meninas. Sua maternidade veio do coração. A menina mais velha arranjou um companheiro e resolveu morar com ele. Ninguém compreendeu esta decisão. A menina mais nova fez enfermagem. Já começou a trabalhar. No dia das mães as três vão se encontrar.
Há o quadro delicado de mulheres que têm um filho ou uma filha na condição presidiário. Seus filhos não são inocentes, mas são seus filhos. Aos domingos, quando permitidos], essas mães vão ao presídio. Entram na fila das visitantes. São revistadas. Levam uma comida de domingo: uma torta de frango, um refrigerante e doce de abóbora com coco. Levam ainda uma revista ilustrada. Por vezes, mãe e filho se recordam de tantas coisas bonitas no tempo da infância. Outras vezes o filho ou a filha se revoltam com a vida. Gritam e machucam o coração das mães.
ORAÇÃO PELAS MÃES
Senhor Deus, grato por teu olhar, por tua bondade
pela tua delicada presença em todo o tempo da minha vida.
Hoje penso em minha mãe nitidamente envelhecendo.
Muito grato pela mãe que me deste.
Seu sangue corre em minhas veias.
Junto dela, escondido, comecei a viver quando não era nada,
quando a força da vida que vem de ti me fez começar a existir.
Ela me deu proteínas, cálcio, sangue, noites de vigília, todos os cuidados, seu leite generoso, cuca de banana, leite queimado com mel nos dias de resfriado, presentes no natal, afago e beijo na hora de dormir.
Partilhou minhas alegrias e suportou provações por minha causa.
Que ela possa viver a alegria da volta de meu irmão, filho pródigo, que hoje vive no mundo tétrico da bebida e deixou mulher e filhos aos deus-dará.
Que a mãe possa atingir uma ditosa velhice.
Que usufrua de longos tempos de calma, de serenidade e de paz no coração que não cabe em seu peito.
Eu te dou graças por teres criado esta mulher inteligente, esperta, cordial, cheia de cortesia, verdadeira e íntima amiga tua, Senhor.
Gosto de ver minha mãe rezando no canto da sala apresentando a ti sua vida e nossa vida.
Graças, Senhor, pela mãe que me deste.
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Petrópolis, RJ