Fé, tradição e cultura marcam Festa da Congada e Moçambique em Piedade

Foi através do som dos bastões e das gungas que Piedade do Rio Grande realizou a 94ª Festa da Congada e Moçambique, famosa por realizar um grande encontro de tradições, a fim de sustentar a fé dos povos africanos e seus antepassados. As celebrações tiveram início no último dia 27 e contou com missas, procissões, e apresentações culturais.

Sob a benção dos padroeiros São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Mercês, o grupo realiza sua manifestação de fé, repleta de cores e sons, totalmente fundada na memória da alma escrava e seus descendentes.

“Desde o primeiro momento que cheguei, encontrei com um grupo moçambiqueiro e  percebi essa bela tradição resistente na cidade. Um tradição que envolve todos, dos mais experientes, adultos, jovens até as crianças que já se envolvem com a dança e o clima de oração e homenagem a nossa mãe, Senhora do Rosário. Todos, fazendo com o que esse costume não se acabe. Essa fé bonita não pode ser deixada de lado. Ela tem que permanecer com a gente. Essa vivencia da espiritualidade e, também, o momento social do encontro. Manifestações de piedade e religiosidade que tocam fundo no nosso coração”, destacou o bispo, Dom José Eudes Campos do Nascimento, durante a celebração da Santa Missa.

Segundo o pároco, padre Jorge Fonseca, a celebração vem reforçar a cultura e garra do povo piedense que realiza a festa mesmo em tempos de dificuldade. “Nós estamos celebrando uma festa em sinal de resistência, marcado pela coragem e pela força que atravessa as barreiras que nos assusta. Celebramos a memoria de um povo que retiram forças, também, na fé cristã”, explica.

O sacerdote ainda reforça a Devoção à Nossa Senhora do Rosário e associa o sofrimento do negro com o olhar maternal de Maria. “No véu de Maria o negro encontra a resistência. Diante das limitações, Maria e o negro se fundem no sinal dessa resistência – ambos tiveram a coragem de assumir a superação em meio às dificuldades da vida. A túnica vermelha de Nossa Senhora (do Rosário) simboliza o sofrimento de Cristo s da humanidade, o sofrimento do negro, o sofrimento dos pobres de ontem e hoje”.

Segundo o Romário Tomé Sobrinho, a Congada e Moçambique de Piedade do Rio Grande é muito mais que um grupo, e sim uma família, que busca resguardar a cultura negra, resistir e sobre tudo lutar pelo direito de igualdade. “Nós só conseguimos fazer isso através da nossa fé que é demonstrada e vivida nos passos, nas danças, e nos cantos. O nosso corpo reza, se comunicando com o sagrado, isso fortalece, nos torna mais irmãos, nos anima a lutar diariamente por um mundo melhor. Creio que vivenciar Congada e Moçambique, especialmente pro povo de Piedade, é recarregar as energias é se reconectar”, explica o integrante e zelador do grupo.