Lc 2,22-40
“Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição”.
Neste domingo, a Igreja celebra a Festa da Apresentação do Senhor, um momento de grande significado para a história da salvação. Maria e José, em obediência à Lei de Moisés, levam o Menino Jesus ao Templo de Jerusalém para cumprir o preceito da consagração do primogênito a Deus. No entanto, mais do que um simples ritual, este evento é um mistério de fé e redenção: é Deus quem se oferece ao Pai, é Cristo que, ao entrar no Templo, revela-se como a Luz para iluminar as nações (Lc 2,32).
A liturgia deste dia nos convida a acolher Cristo como a luz do mundo e a renovar nossa fé e entrega a Deus. Como destaca o texto que tomamos como base para esta reflexão, há múltiplas dimensões nesta celebração. Vamos aprofundar alguns desses aspectos e deixar que esta festa ilumine nosso caminho de discípulos de Cristo.
O Messias Entra em sua Cidade e em seu Templo
O primeiro aspecto a ser destacado é que, neste dia, o Messias entra em Jerusalém pela primeira vez. A Cidade Santa, destinada a ser a morada do Rei e Salvador, recebe aquele que é o verdadeiro Filho de Davi. Podemos ver aqui uma antecipação do Domingo de Ramos, quando Jesus retornará a Jerusalém, já adulto, para consumar sua missão redentora.
Jerusalém é também imagem da Igreja, a nova Sião que acolhe o Senhor. A liturgia nos exorta: “Sião, enfeita o teu quarto nupcial e recebe o teu Rei, Cristo Jesus”. Essa exortação interpela cada um de nós: seremos nós, Igreja, uma cidade aberta para acolher Cristo? Estaremos prontos para recebê-lo com a fé viva, simbolizada pelas lâmpadas acesas na procissão das velas desta celebração?
Um segundo ponto essencial é que Jesus não apenas entra na cidade, mas dirige-se diretamente ao Templo. O profeta Malaquias já havia anunciado que o Senhor viria ao seu Templo (Ml 3,1), e hoje essa profecia se realiza. Mas este Templo de pedra aponta para uma realidade ainda maior: a Igreja, o novo Povo de Deus. Cristo, ao ser apresentado no Templo, manifesta-se como o Esposo que vem ao encontro da Esposa, a Igreja.
Cristo, Luz para as Nações e a Entrega do Primogênito
Outro elemento essencial deste mistério é a apresentação do primogênito a Deus. Segundo a Lei de Moisés, todo primogênito do sexo masculino devia ser consagrado ao Senhor (Ex 13,2). No entanto, Jesus não é apenas mais um filho de Israel oferecido a Deus. Ele é o próprio Filho de Deus, que assume nossa humanidade para nos libertar da Lei e nos conduzir à graça.
Aqui se revela o mistério da obediência e do sacrifício de Cristo. Desde o seu nascimento, Jesus já caminha para a oferta suprema de sua vida na cruz. O Menino, hoje apresentado no Templo, será um dia o Cordeiro imolado no Calvário. Maria e José, ao entregarem seu Filho, já participam do mistério de sua futura Paixão.
Neste momento, entra em cena Simeão, o homem justo e piedoso, que reconhece em Jesus a Salvação preparada por Deus. Suas palavras ressoam em toda a Igreja: “Meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos” (Lc 2,30-31). Simeão representa o Antigo Testamento que, ao ver Cristo, compreende que sua missão foi cumprida. Ele pode partir em paz, pois a Promessa se realizou!
Mas Simeão também profetiza a dor de Maria: “Uma espada transpassará a tua alma” (Lc 2,35). A missão de Cristo não se cumprirá sem sofrimento. Não há luz sem cruz, não há ressurreição sem a Paixão.
A Procissão das Velas e o Chamado à Santidade
A procissão com as velas, realizada nesta festa, tem um significado profundo: Cristo é a Luz do mundo, e nós, como discípulos, somos chamados a levar essa luz a todos os povos. Essa procissão recorda a parábola das dez virgens prudentes, que aguardavam o Esposo com suas lâmpadas acesas (Mt 25,1-13).
O gesto de carregar velas acesas nos lembra que a fé deve ser constantemente alimentada, para que não se apague no meio da escuridão do mundo. A Apresentação do Senhor nos convida a refletir: a chama da nossa fé ainda brilha? Nosso testemunho cristão ilumina os que estão ao nosso redor?
A Oferta de Maria e o Mistério da Redenção
Maria, ao apresentar Jesus no Templo, antecipa o que fará no Calvário. Ela entrega seu Filho ao Pai, consciente de que Ele foi enviado para ser o Redentor do mundo. Como Abraão, que subiu ao Monte Moriá para oferecer Isaac (Gn 22,8), Maria sobe ao Templo para oferecer Jesus. Mas agora, Deus não poupará seu próprio Filho: Ele será o verdadeiro Cordeiro do sacrifício.
Neste momento, Maria torna-se a Mãe da Oferta Perfeita, aquela que, na plenitude de sua fé, se une ao sacrifício de Cristo. No Calvário, essa entrega se consumará quando, de pé junto à cruz, ela aceitará a vontade do Pai e se tornará Mãe de toda a Igreja.
Conclusão: A Igreja que Acolhe a Luz de Cristo
A Festa da Apresentação do Senhor é um convite a cada cristão para acolher Jesus como a Luz que ilumina a vida. Ela nos recorda que a fé não é um simples rito ou tradição, mas um encontro vivo com Cristo, que deseja habitar em nossa história.
Que possamos nos perguntar hoje: sou um templo aberto para Cristo? Minha fé ilumina os que me cercam? Que a Virgem Maria, que ofereceu seu Filho a Deus, nos ensine a também oferecer nossa vida ao Senhor, para que sejamos verdadeiros discípulos de Cristo.
Neste dia, louvemos a Deus pela vocação consagrada, que é um reflexo desse mistério. Como Simeão e Ana, saibamos reconhecer Cristo presente em nossa história e, com nossas lâmpadas acesas, esperemos com fé o dia em que Ele virá em glória!
Que Nossa Senhora da Candelária nos ensine a ser luz no mundo e a manter firme a chama da fé!







