O cotidiano que a maior parte da população brasileira experimenta diariamente exige do indivíduo uma organização sistemática do tempo. É nessa rotina corriqueira que, muitas vezes, ocorre o mecanismo e a indiferença por parte das pessoas, de forma que a gentileza, a solidariedade e a caridade são deixadas de lado.
Numa perspectiva de mudança da realidade, o Papa Francisco tem impelido as pessoas à saída dos templos e à ação transformadora: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças”, afirma o sumo pontífice no documento Evangelii Gaudium. O apelo à prática renovadora não é estrita apenas aos católicos, mas sim a todos os que seguem o ideal de Cristo, já que este se pôs a serviço num desejo missionário despertado pelo Espírito Santo.
Vale recorrer também à personalidade de São Francisco de Assis, tomando-o como modelo da vivência dos princípios evangélicos. O exercício da gentileza é uma das maiores expressões da identidade cristã, principalmente no contexto atual da falta de empatia por parte de muitas pessoas. O problema se encontra quando estes que se declaram cristãos não dão exemplo pelo Evangelho, pois a característica principal do cristianismo acaba sendo sufocada pelo pietismo, pela arrogância, pela irrelevância e, consequentemente, pela hipocrisia. Este é um dos maiores desafios da Igreja: fazer com que os próprios católicos vivam o catolicismo na sua essência fundamentada em Cristo e que não se deixem induzir pelas vontades humanas que os levam à incongruência por meio de comportamentos.
Por mais que a Igreja faça esse apelo à prática da gentileza, o exercício deste valor excede a uma questão de fé; abrange todas as pessoas, levando o humano a se tornar mais humano. O “ser gente” é um grande fomentador do desejo de mudança, uma vez que a história que cada pessoa carrega já faz com que esta desperte em si a sensibilidade, impelindo o seu próprio agir ao “ser gentil”.
Ainda é válido evocar a imagem de Santa Teresa de Calcutá que traz a mensagem de que a transformação se dá a partir do pouco: a gentileza é uma das principais bases para a construção do mundo novo. Quando lhe perguntaram o que deveria ser feito para mudar o mundo, a Madre respondeu: “Vá para a sua casa e ame a sua família”. Com esta resposta, ela mostra que a conversão das pessoas e das relações se dá por meio da gentileza.
Para finalizar a reflexão, é interessante memorar a figura do Profeta Gentileza (José Datrino), um brasileiro que, com simplicidade, deixou um encorajamento para a gênese da transformação no seu exemplo e no seu famoso e verdadeiro ditado: “Gentileza gera gentileza”.