No mês de Setembro acontece a importante festa em honra a Nossa Senhora de Nazaré, na cidade de Nazareno, Minas Gerais. São dias de celebração que preenchem a expectativa de milhares de devotos que para lá se dirigem para poder prestar culto e recorrer à poderosa intercessão de Nossa Senhora de Nazaré, que há tanto tempo protege e abençoa aquela cidade, seus habitantes e os romeiros daquele Santuário. A expectativa para as festividades fica ainda maiores pelos dois anos que a celebração do Jubileu ficou restrita em consequência da pandemia do coronavírus enfrentada pela humanidade. Ainda, nesse ano, em especial, a celebração se reveste de um caráter mais festivo pelos 60 anos de elevação a Santuário o templo dedicado à padroeira da paróquia.
No ano de 1725 foi construída a capela de Nossa Senhora de Nazaré sobre os terrenos doados por Manuel Seixas Pinto e seu irmão, José Gonçalves Pinto, na pequena povoação de nome Ribeiro Fundo. Posteriormente o nome do arraial se tornou Nossa Senhora de Nazaré e, finalmente, assim como é chamado hoje, Nazareno. O crescimento da povoação local é atribuído aos milagres da Virgem de Nazaré, que levavam contínuos peregrinos a visitarem e buscarem com a Santa Mãe de Deus novos rumos para a vida.
Pela história de Nazareno passaram filhos que marcaram de forma ilustre a cidade, dentre eles, Padre José Dias Custódio e Cônego Heitor Augusto da Trindade, hoje venerado pelo povo da cidade como santo por vários milagres. Cônego Heitor dedicou a sua vida e seu ministério presbiteral no cuidado espiritual do povo nazarenense e no zelo social da comunidade.
Jubileu de Nossa Senhora
Em 19 de fevereiro de 1864, o Santo Padre Pio IX, estabelece na cidade de Nazareno o Jubileu em honra a Nossa Senhora, graças ao grande número de devotos e romeiros que já se dirigiam à cidade nos dias 7, 8 e 9 de Setembro de cada ano. O Jubileu está cultivado na memória do povo da cidade que relembra o ano todo da “Festa de Setembro”, em que a cidade se reveste de novo ar e fica repleta de pessoas que buscam em Nossa Senhora auxílio, proteção e bençãos para suas vidas.
De acordo com Rodrigo Augusto, secretário de pastoral da paróquia, que desde 2012 ajuda na linha de frente da organização do Jubileu, “muito mais que devoto de Nossa Senhora de Nazaré sou filho da Mãe terníssima de Deus. É no seu trono e aos seus pés que tantas vezes levei os meus pedidos e rendi o meu agradecimento por tantos caminhos abertos e rescritos. Nossa Senhora de Nazaré marca a minha história como a de todos os nazareneses. Louvo a Deus por permitir que nossa cidade seja edificada por uma fé tão bonita e amparada maternalmente por uma Senhora que nunca nos desampara e nos leva sempre a Jesus”.
Sobre a produção do Jubileu, o jovem ainda nos afirma que “mais uma vez, nós esperamos acolher muitas pessoas no nosso Santuário. Sempre recebemos em média 80 romarias registradas, fora as que vem e ainda não fazem seu cadastro na Secretaria. Esperamos mais uma vez lotar a cidade, com uma estimativa de 50000 pessoas nos 3 dias de Jubileu”.
A cidade se movimenta de forma peculiar nesses dias, a passagem dos peregrinos, romeiros e devotos se intensificam na busca pela intercessão da Senhora de Nazaré. As ruas da cidade ficam tomadas pelo agito das barracas e barraqueiros, marcando aquilo que os nazarenenses já estão acostumados, que é a parte social intensa.
Janúzia de Romão, ao relatar sobre a sua experiência com o Jubileu de Nossa Senhora de Nazaré, afirma que “a motivação vem da alma, é algo difícil de descrever, uma sensação que nos faz chorar de emoção. Quando Setembro se aproxima, parece que o ar, a natureza e tudo em volta nos aponta que se aproxima a tão esperada festa”. Para ela, Nossa Senhora representa “aconchego, segurança, colo de Mãe, cuidado e paz no coração”.
A devoção à Mãe de Deus enche por completo a vida do fiel devoto que encontra Nela caminho e referência para uma vida dedicada a Jesus Cristo. Para Janúzia, portanto, a expectativa “é de conversão e maior aproximação de Jesus Cristo, pois sabemos que Nossa Senhora nos pega pela mão e nos leva a Jesus. O fim último de nossa fé à Nossa Senhora é chegar a Jesus. Ele é o centro. E ela nos ensina e nos mostra o caminho para chegar até Ele”.
O Jubileu, assim, é para o povo de Nazareno sinal de alegria e esperança, pois mesmo em meio à correria da vida e as lutas que cada um enfrenta, a certeza de que Nossa Senhora ampara e protege cada filho seu permanece intacta nos corações.
A novena em honra à Santa Virgem é celebrada com piedade e entusiasmo, destacando-se a enorme participação de todo o povo que se reúne com o objetivo de render graças e louvores a Maria. Além disso, a Novena e o Jubileu é um momento de se encontrar como comunidade aos pés da padroeira da paróquia, celebrando a fraternidade e o encontro como caminhos autênticos de conversão, de celebração da fé e de vivência eclesial.
Um testemunho pessoal
Segue abaixo um testemunho pessoal de Janúzia de Romão, uma graça alcançada por meio da intercessão de Nossa Senhora de Nazaré:
“Sempre tive um grande amor por Nossa Senhora de Nazaré, desde minha tenra infância, mas em 2009 recebi uma graça que jamais poderei agradecê-la o suficiente, a minha vida e a graça de poder criar meus filhos.
No ano de 2009, eu estava grávida de meu filho caçula, Leandro, e naquele ano tivemos a pandemia da gripe suína, na época, o grupo mais vulnerável eram as gestantes, correspondia ao maior número de óbitos, e eu sempre rogando à Nossa Mãezinha.
Quando chegou o período das novenas, estávamos no auge da pandemia, muitos não tiveram coragem de ir à igreja, em especial as gestantes. Mas eu decidi que não deixaria de fazer a novena, claro que não queria colocar Deus à prova, era uma necessidade que gritava dentro de mim, mais do que nunca, eu precisava me aproximar de Deus, e sei que Nossa Senhora é nossa ponte, ela nos pega pela mão e nos entrega à Jesus Cristo. Portanto, fui à novena, todos os dias, roguei a ela com toda força da minha alma, que rogasse à Jesus pela minha vida e pela vida do meu filho que estava para nascer. Obviamente, procurava um lugar mais ventilado e menos aglomerado na igreja, pois não se tratava de colocar Deus à prova, como mencionei antes.
Pois bem, meu filho nasceu de oito meses, no dia 23 de Outubro, foi um parto muito difícil, meu filho nasceu desmaiado, precisou ser reanimado, levou um tempo pra respirar, que segundo a Ciência teria grande chance de ter uma sequela cerebral. E o meu caso, foi mais difícil ainda, tive embolia de líquido amniótico, uma complicação grave e muito rara, o índice de sobrevivência, entre as mulheres que sofrem essa complicação é de apenas dois por cento. Enfim, fiquei muito mal, estive entubada, respirando cem por cento por aparelho. Mas para o nosso Deus nada é impossível, no momento mais difícil da minha vida, em que eu ainda estava totalmente consciente e sabia da gravidade, quando voltaram comigo para a cirurgia, quando os médicos lutavam para salvar minha vida. Naquele momento, eu chorava muito, tinha muito medo de deixar meus filhos, aqueles que amo, eu e minha médica rezamos a Salve Rainha de mãos dadas, na sala de cirurgia. Eu conseguia sentir a presença de Nossa Senhora, ali, me confortando, não estou dizendo que eu a vi. Não é isso. Até porque não sou digna de tamanha dádiva. Mas era uma presença em meu coração, em minha alma, que era capaz de criar uma imagem em meus pensamentos.
Enfim, tudo passou, e com a graça de Deus, por intercessão de Nossa Senhora de Nazaré, a graça alcançada naquele jubileu foi a minha vida, a chance de viver para criar meus filhos. Além disso, meu filho também não teve nenhuma sequela.
Parece importante acrescentar, que ao narrar esse fato, não estou me colocando como privilegiada, por ser merecedora de tamanha graça. Apropriando-me das palavras do Papa Francisco ‘sou apenas uma pecadora que Deus colocou os olhos’, pela intercessão de Nossa Rainha, Mãe e Imaculada Nossa Senhora de Nazaré. A Ela o meu respeito, amor e gratidão. E a Jesus Cristo, toda honra e toda Glória para sempre. Amém!”
60 anos de elevação a Santuário
No ano de 1962, 28 de janeiro, Dom Delfim Ribeiro Guedes, primeiro bispo de São João del Rei, emitiu um Decreto no qual instituía a Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré como Santuário. O bispo em seu decreto enalteceu a grandiosidade das graças dispensadas por Maria Santíssima naquelas terras e àqueles que ali visitavam. Dom Delfim destaca que a poderosa proteção materna “de Nossa Senhora de Nazaré tem-se revelado através de inúmeras graças espirituais e temporais, em benefício não só dos fiéis desta Paróquia, mas dos de uma vasta região do Oeste de Minas.
Outro dado importante deste decreto é que até então a Matriz de Nossa Senhora de Nazaré teria passado por uma reforma artística e era objetivo de vários e piedosos romeiros que buscavam o conforto e o fôlego para as lutas e dificuldades da vida. Ainda, faz memória ao documento no qual o Papa Pio IX concede indulgência plenária a todos os fiéis que, suetis conditionibus (de acordo com as condições habituais), que visitassem a Virgem de Nazaré naquele templo dedicado a ela nos dias 7, 8 e 9 de Setembro.
60 anos após esse decreto de Dom Delfim Guedes, a Paróquia Santuário de Nossa Senhora de Nazaré enaltece e celebra o seu Jubileu de Diamante como Santuário, agradecendo a Deus pelos inúmeros e incontáveis benefícios que não somente a paróquia e seus paroquianos, mas todos os romeiros e aqueles que ali dedicam as suas orações e celebram a sua fé têm recebido da Virgem Maria, fiel e incansável intercessora junto a Deus.
Segue abaixo o Decreto redigido:
Reportagem de Jonas Marciel Assis | Seminarista