Maria, minha mãe Maria!

Ainda vivendo a perspicuidade do brilho intenso da Páscoa, no multiplicar das horas que se estendem como uma grinalda de esperança nos tempos desafiadores que vivemos, sob o tilintar do barulho grave da natureza em festa do ressurgir da vida nova, nos propomos a celebrar, como Igreja, a Bem Aventurada Virgem Maria, nossa mãe do céu! E imersos nessa alegria pascal, urge sanar um desejo de todos aqueles que experimentaram e experimentam a força da fé no ressuscitado: queremos ver Jesus! Eis o nosso pedido, nesse mês de maio, à Nossa Senhora: “Iesum ostende nobis” (mostrai-nos Jesus)!

Como nas letras sagradas dos santos Evangelhos, parafraseamos o desejo de tantos que queriam fazer a experiência de ver Jesus. Lembro-me dos gregos que procuraram a André e Filipe e manifestaram seu desejo propínquo de ver o mestre (cf. Jo 12,20). Ou o Zaqueu tacanho que subiu na figueira para ver Jesus passar (cf. Lc 19,1). Ou ainda, escutando e aprendendo do escrevente do Evangelho de João que atestou com tamanha precisão que “aquele que viu, dá testemunhou, e o seu testemunho é verdadeiro” (cf. Jo 19,35). Hoje, assim como eu, ou como você, tantos querem experimentar a mesma valedoura alegria de ver Jesus. E não apenas vê-lo com olhos bisbilhoteiros, através dos sentidos parcimoniosos. Mas, sanar o desejo de vê-lo vitorioso pelos olhos da fé que apressam-se em conhece-lo e criar uma devida intimidade com o salvador.

Desta maneira, queremos nos valer da Mãe Maria, para nos aproximar do Filho e suplicar à Virgem, como tanto invocamos na oração da Salve Rainha: “Mostrai-nos Jesus, bendito fruto do teu ventre”! Eis a maior alegria da Nossa Senhora, nos mostrar Jesus, fazê-lo conhecido e amado. Mostrar Jesus à humanidade sempre foi a missão de Maria: do primórdio ao exórdio de sua missão na terra e ainda continua sendo, através de sua presença mística nos corações devotos. Pedimos com fé, à Maria, para nos mostrar Jesus através do espelho de seus olhos.

Na senda de sua história, Maria encontrou as pedras que alcatifaram seus passos neste mundo! Duras penas para um coração doce que sempre teve o desejo e o princípio de mostrar Jesus para os homens. Mas o caminho cruel valado pelo peso decaído da culpa humana, o pecado, fez com que Maria rabiscasse nas páginas de sua vida a história da dor. Porém, o que é mais impressionante é que mesmo assim, ela não esmoreceu, e ainda que, na dor intensa, ela nos mostrou Jesus, como o mostrou ao Simeão senil ou aos doutores da lei no templo, ou ainda aos algozes de Cristo na cruz. A missão sempre foi apresentar o seu Filho à humanidade.

No raiar do novo Sol, Maria, sobrepujando as dores imensas que sentiu, renovada de força e com a fé inabalada, continua com o mesmo e severo intento de ser um elo entre os homens e Jesus. Entre as dores e alegrias de Maria, alcançamos o Cristo, como nos ensina o Papa Francisco, em suas belas palavras: “Maria é mãe boa, e uma mãe boa não somente acompanha os filhos no crescimento sem evitar os problemas, os desafios da vida; uma mamãe boa ajuda também a tomar decisões definitivas com liberdade” […] “a Virgem Maria educa seus filhos no realismo e na fortaleza diante dos obstáculos, que são inerentes à própria vida, e que Ela mesma padeceu ao participar dos sofrimentos do seu Filho” (Papa Francisco, Basílica Papal de Santa Maria Maior, Sábado, 4 de Maio de 2013). Por isso, acompanhar a Mãe se faz necessário. Pois Maria não nos educa à uma fé pueril, supersticiosa, ou blindada do pecado. Pelo contrário, mesmo sendo imaculada, percorre os vales odientos do mal, para nos mostrar a saída pelo degrau do amor. Maria nos faz enxergar o Cristo, através do imundo golpe do pecado e nos devolve a esperança suplicando, ela mesma, por nossas almas.

Convido-vos, durante esse mês de maio, aos pés de Nossa Senhora, a fazermos um novo propósito de vida e de fé. Abracemos Maria em sua missão! Assumamos com ela seus deveres e suas fainas: Ver Jesus é o objetivo que buscamos através dos olhos alegres de Maria! Fazer com que o Cristo seja visto pelo mundo, passe a ser nosso esmero diário através de nosso testemunho e de nosso exemplo.

Que a Imagem de Maria não seja um amuleto barato que se compra ou se vende nas vitrines e lojas do mundo comerciante, mas que seja, para nós, a partir de hoje, ponto de partida para uma missão maior e mais concreta de nossas verdades. Façamos com que os outros vejam o Cristo, com a alegria que aprendemos de Nossa Senhora e que vamos imitar a partir de hoje. Façamos que os outros vejam o Cristo, através de nossa honestidade, seriedade, empatia, caridade, através de nossa verdade. Para que isso aconteça é preciso abnegar de costumes antigos e que talvez, como nos disse São Tiago em sua carta canônica, se tornaram vícios e costumes perversos de uma rotina pecaminosa. Arranque de sua vida a falsidade, a corrupção nas coisas pequenas que leva aos grandes corruptores do país… arranque da sua vida o vício que destrói a sua família, ou os hábitos que te transformam numa pessoa insatisfeita, lamuriosa.

Tomemos como exemplo a nossa querida Mãe do Céu, e numa vida de amor e de doação total, procuremos ver Jesus e mostrá-lo aos demais, numa graça inquebrantável de uma vida alegre e feliz.