Neste dia 22 de novembro, de maneira geral, é comemorado o Dia do Músico. No contexto da liturgia católica comemora-se a memória de Santa Cecília (séc. II), padroeira da Música e de todos aqueles que se lançam na compreensão e no estudo de tal arte. Pouco se sabe da vida desta jovem santa dos primórdios do Cristianismo, embora a tradição cristã tenha consolidado o testemunho de sua vida por meio da dedicação à arte musical.
Cecília representa a gama de cristãos que já no primeiro século despertaram seu interesse para a vivência da música na liturgia. Destarte, é possível entender que desde os primórdios da Igreja, a música assume um papel preponderante no contexto da liturgia cristã. Rica herança do Judaísmo, a oração melódica entoada nas primeiras comunidades, composta por hinos e cânticos inspirados nas Sagradas Escrituras, fomentou nos corações dos primeiros cristãos o desejo de corresponder, por meio do louvor musical, ao diálogo da oração proposto por Deus.
A assembleia reunida para cantar os louvores do Senhor exprime publicamente sua participação no mistério celebrado (cf. Ef 5,19). Pela experiência musical, o povo expressa os sentimentos presentes em seu coração: lamenta, suplica, agradece, louva. A música, desta maneira, assume seu papel enquanto veículo de espiritualidade, uma vez que pela sinceridade da linguagem musical o homem consegue direcionar-se para o contato com o Senhor.
Consciente disso, a Igreja reconhece que sua liturgia é portadora de grandes valores: o sacramental enquanto movimento do próprio Deus que vem ao encontro da humanidade por meio da Eucaristia vivida e celebrada; e outro, o artístico, enquanto movimento humano em direção ao contato com o divino. Neste intenso diálogo, a música litúrgica coloca-se como um precioso patrimônio religioso que apresenta, na mais alta dignidade, a expressão dos sentimentos humanos.
Esse precioso “tesouro de inestimável valor” cumprirá sua função no seio da comunidade tanto “quanto mais intimamente unido estiver à ação litúrgica, quer como expressão delicada da oração, quer como fator de comunhão” (Sacrossanctum Concilium nº 112). Assim, a assembleia reunida assume sua ativa participação na medida em que é integrada à oração comunitária expressa nas linhas musicais do canto e da música litúrgica. É resposta positiva de um povo escolhido e reunido à congregação que Deus realizou por primeiro.
Por tão grandiosa vocação, a Igreja reconhece a importância de tantos homens e mulheres, que nas suas mais difíceis realidades, oferecem seus dons e parte de seu tempo na preparação das celebrações e na animação das comunidades para bem viverem os mistérios do Senhor. O serviço por eles desempenhado à Igreja de Deus anima e encoraja a comunidade a permanecer firme na esperança de um dia, na eterna liturgia celeste, ponto de encontro de todos os irmãos na fé, cantar os cantares do Senhor, não mais numa terra estrangeira (cf. Sl 137,4), mas em um lugar por Ele preparado.
“Cantem a vossa glória, Senhor, os nossos lábios, Cantem nossos corações e nossa vida; E já que é vosso dom tudo o que somos, Para vós se oriente o nosso viver!”
(Liturgia das Horas, III vol. Oração da Manhã, sáb. 2ª sem. , p. 884).