Orações e reflexões marcam retiro anual do clero diocesano

Encerrou na tarde dessa quinta-feira, 30, o Retiro Espiritual do Clero da Diocese de São João del-Rei. O evento, que reuniu bispos e sacerdotes contou com grandes momentos de oração e reflexão espiritual.

Realizado anualmente no Retiro das Rosas, em Cachoeira do Campo, local situado a 75 km de Belo Horizonte e à 19 km de Ouro Preto, o evento foi conduzido por Dom Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo Emérito de Mariana e teve como tema “Vida e ministério dos presbíteros á luz do magistério da igreja”.

“Foi muito rico essa participação com o nosso clero, sobretudo nessa missão de ajuda-los na reflexão proposta. Fiquei feliz de ver a participação e o envolvimento dos sacerdotes. O retiro é sempre um bom momento para se dar uma pausa com nossa rotina e buscar ter um contato íntimo com Jesus Cristo. Podemos, assim, rezar ao longo desses dias”, destaca o bispo diocesano de São João del-Rei, Dom José Eudes Campos do Nascimento.

Além das pregações, a programação contou com adoração ao Santíssimo, terço, confissões, missa e laudes.

Ao final do retiro, o representante dos presbíteros, Padre Vinícius Idefonso Campos, proferiu a leitura de uma mensagem ao pregador do retiro, Dom Geraldo Lirio Rocha. O sacerdote também falou sobre a experiência, a proposta de reflexão e a partilha. Veja na íntegra:

“Segue-me” (Jo 21,19)

Exmo Rvmo. Sr. Dom Geraldo Lirio Rocha

Ao longo destes dias, o senhor, Dom Geraldo, nos fez voltar o coração, ao convite do Mestre: “Segue-me”. Isto porque, tão facilmente nós presbíteros corremos o risco de “colocar a mão no arado e olhar para trás”(Lc 9,62). O senhor recordou-nos que o seguimento a Jesus exclui arrependimentos e esse olhar saudosista ao passado. O Segue-me exige diariamente a virtude da decisão, que abraça o presente, sem amarguras ou nostalgias do passado, sem obsessões pelos temores do futuro. Acolher com prontidão o convite de Jesus é ter a coragem de todos os dias deixar imediatamente as redes e segui-lo.  Só assim, na instabilidade deste mundo, fixaremos nosso coração onde se encontra as verdadeiras alegrias (cf. OC 21°DTC)

No dia da Ordenação Presbiteral, nós dissemos com fé, disposição, convicção e amor: quero, quero, quero, quero, quero com a graça de Deus. Só que depois, em tantos momentos da vida sacerdotal, nos contradizemos, e afirmamos com palavras e atitudes, como o Apóstolo Pedro: “Não o conheço”. Por isso, é sempre necessário, como o senhor bem nos recordou,  escutar novamente a voz do Amado, reencontrar o nosso primeiro amor, deixar de apascentar a nós mesmos e colocar os nossos pés nas pegadas de Jesus, fazer do caminho dele o nosso e do amor dele, nossa razão de viver. Obrigado, por rezar conosco pedindo que, “o rebanho possa atingir, apesar de sua fraqueza, a fortaleza do Pastor” (cf. OC 4° DPáscoa).

A ansiedade e preocupação que invadem nosso coração de Presbíteros, fazem com que a Palavra caia no terreno pedregoso, onde a semente até germina mas, logo seca. A agitação do dia a dia através do serviço Paroquial, das questões burocráticas, das obras e reuniões fazem a Palavra cair à beira do caminho; logo vem as aves e a comem. A vaidade, o orgulho, a prepotência, o medo e tribulações fazem com que a Palavra caia entre os espinhos, estes crescem e a sufocam. Por isso, obrigado por nos incentivar a sentar aos pés do Mestre, colocar o nosso ouvido no peito dele e voltar a ser uma terra boa. Pois, somente o Presbítero que diariamente se alimenta da Palavra é capaz de ensinar produzindo frutos, trinta, sessenta e cem.

Constatamos que a tentação de nos preocuparmos apenas conosco mesmos é cada vez mais forte. Neste sentido, nós presbíteros, corremos o risco de sermos um “fazedor de coisas”, até estamos juntos a Jesus, mas não vivemos o múnus de santificar e apascentar. Às vezes, temos a tentação de dizer como os discípulos: “Despede a multidão, para que vão aos povoados e campos vizinhos procurar pousada e alimento” (Lc 9,12). Torna-se um perigo estarmos apenas preocupados com os nossos “cinco pães e dois peixes” ou o nosso autoapascentar-se, enquanto o Mestre nos diz: “Dai-lhes vós mesmos de comer”(Mt 14,16). Neste sentido, o senhor recordou-nos que devemos procurar não o que é nosso, mas o que é de Jesus. Ele é o centro, a força, a razão de nosso ministério. Todos aqueles que têm a coragem de sair de si e deixar-se inundar de Cristo, são capazes de transbordar pelo mundo o amor santificante e cuidador do Mestre. Pois, por Ele, com Ele e Nele somos capazes de transformar os peixes e pães num alimento que não acaba; ajudar a ovelha perdida a encontrar o caminho; cuidar da doente; apascentar no hoje da vida, com um coração manso e humilde, como o Bom Pastor.

Certa vez, Jesus percebeu que os discípulos estavam discutindo sobre quem seria o maior. Infelizmente isso não mudou muito, pois nós presbíteros em tantos momentos temos dificuldade de entender quem é Jesus. Enquanto Jesus fala-nos do Reino, do amor, da justiça, da sua Paixão e Ressurreição, ficamos pensando em honrarias e privilégios, atribuídos a quem ocupa o primeiro lugar. Obrigado Dom Geraldo, por nos fazer ver que este não é o caminho, mas sim o que o próprio Jesus indica: “Se alguém quer ser o primeiro que seja o último de todos e aquele que serve a todos” (Mc 9,36) e mais, “Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27). O nosso ministério presbiteral deve ser sempre pautado no serviço, na unidade e no amor. Por isso, rezamos agradecidos pedindo: “Derramai, ó Deus,  em nossos corações o vosso Espírito de amor, para só pensarmos o que vos agrada e amar-vos com sinceridade em nossos irmãos e irmãs” (OC Missa votiva para a caridade).

Obrigado pela coordenação deste retiro espiritual, por nos conduzir novamente a montanha para escutar o Mestre que diz: “Bem-aventurados os pobres no espírito, os mansos, os aflitos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordioso, os puros de coração, os que promovem a paz, os que são perseguidos” (Mt 5,1-12), e assim, recordar que a santidade não é um projeto de vida para os outros e muito menos que nós presbíteros já estamos garantidos na virtude da santidade. Ao contrário, “os presbíteros atingirão a santidade pelo próprio exercício do ministério”. Voltaremos comprometidos em viver a caridade nas ações do dia a dia, pois só assim seremos “santos como o Senhor nosso Deus é santo” (1Pd 1,16). E nesta busca de estar a altura de Cristo, o senhor recordou-nos que não estamos só, Maria caminha conosco. A nós hoje, também se aplicam as palavras sagradas: “perseveravam unânimes na oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e com os irmãos dele” (At 1,14). A Santíssima Virgem é uma mãe amorosa que testemunha a todos nós que é possível ser santos neste mundo. Ela, como o senhor nos recordou, é modelo de saber escutar e meditar no coração a Palavra, de serviço generoso a quem precisa, de oferenda agradável a Deus, de deixar-se traspassar pela dor e inundar-se do Espírito Santo. Nossa Santíssima Mãe, ensina-nos que o ministério presbiteral só será fecundo, na medida em que somos capazes de lançar-mo-nos no horizonte de Deus e dizer de coração aberto: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).

Nós presbíteros somos seres frágeis, pecadores, mas quando lançamos as raízes em Deus, nos tornamos fortes no amor. Sendo assim, obrigado Dom Geraldo, por acima de tudo, nos ensinar que o lírio, uma flor tão bela, perfumada, mas também tão efêmera, quando plantada na Rocha, que é Deus, torna-se forte, sempre viva e exala o perfume de Cristo por onde passa. O seu testemunho entre nós comprovou para todos aquilo que disse no primeiro dia: “amo o que sou, gosto do que faço”.

Segue-me.

Padre Vinícius Idefonso Campos