Paraliturgia do Encontro reúne fiéis no centro de São João del-Rei

O calendário litúrgico indica que ainda está no período quaresmal, mas, em São João del-Rei, o clima de Semana Santa chega sempre com semanas de antecedência. É a Comemoração dos Passos, uma das mais autênticas e legítimas tradições da histórica cidade do Campo das Vertentes. Preservada há mais de dois séculos, a festa paralitúrgica recorda o tocante encontro de Jesus e Maria durante a Via Crucis.

A programação maior iniciou na Sexta-feira, 29, com o Depósito de Nossa Senhora das Dores. Saindo da Catedral do Pilar, a imagem da Virgem Dolorosa foi encaminhada para a Igreja de Nossa Senhora do Carmo. O mesmo ocorreu com a imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos, que, em depósito, foi direcionado a Igreja de São Francisco de Assis, na noite de sábado, 30.

Como de costume, o quarto domingo da quaresma amanhece diferente na cidade. Quaresmeiras, amêndoas e rosmaninho são alguns dos símbolos que “ornamentam”, ainda mais, a solenidade. Os tradicionais sinos, e suas peculiaridades, também completam a simbologia, afinal, é nessa festa que eles (os sinos) entram em disputa e realizam o magnífico combate.

O repertório musical é o mesmo executado há mais de duzentos anos. Também o costume popular de beijar três vezes a fita do Senhor dos Passos, alternando com passagens debaixo da cruz (que a imagem traz às costas), contornando o andor em sentido anti-horário, é muito antigo.

Visão, audição, olfato, tato e paladar são provocados e estimulados, de muitas formas. Na cor roxa dos tecidos, das roupas das imagens, das flores que enfeitam os andores, das fitas que adornam os sinos. Nas músicas, sons, melodias, vozes. Através dos instrumentos, no toque dos sinos, na marcha das bandas, nos motetos da Orquestra Ribeiro Bastos.

No fim da tarde, os olhares dos fiéis são direcionados apenas para as duas imagens de roca, ornamentada em seus respectivos andores. A cena, que comoveu a todos, foi acompanhada por centenas de fiéis que se aglomeraram na Praça Barão de Itambé (Largo da Câmara) para acompanhar o sermão proferido por Dom Darci José Nicioli, Arcebispo de Diamantina.

Durante o sermão, Dom Darci associou a figura de Maria com muitas mães que sofrem as perdas hoje. “Quanta dor nos vemos no rosto de Maria, dor de mãe, onde vemos como as mães são sofredoras tal quanto essa mãe bendita. Quem é capaz de medir a dor da mãe que perde seu filho pela morte provocada. Conseguimos alcançar a dor da mãe que perderam os filhos no desastre criminoso de Brumadinho? A dor das mães que perderam seus filhos na escola de Suzano? Eis a figura da mãe sofredora. Toda a mãe sofre antes, durante e depois do parto. E nós curvamos à elas”, destaca.

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Após o tocante encontro as imagens, juntamente com os fiéis, saíram em procissão rumo a Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar. Durante o percurso, os fiéis puderam acompanhar os Motetos dos Passos como “O Senhor Deus”, “Miserere”, “Popule Meus”, “O Vos Omnes” e “Adoramus Te”. Todos, executados pela Orquestra Ribeiro Bastos.

Há entrada da procissão, no interior da Catedral, Nicioli proferiu o Sermão do Calvário, encerrando assim as comemorações de 2019.