De repente me encontro em apuros. Embora escrever seja uma rotina, o gentil convite da Diocese para escrever um artigo para o dia dos pais me desafiou
Difícil também é fugir dos clichês, aqueles slogans e felicitações que estão presentes nas propagandas e na maioria dos textos sobre o dia dos Pais, como também sobre o dia da Mães. Tantas palavras belas e profundas já foram ditas e de onde eu tiraria algo mais?
Me inspirei, então, no desafio de ser pai-filho, este que faz parte de minha vida hoje. Ao ter filhos (e hoje tenho sete) é que começamos a compreender cada atitude de nossos pais.
Cada sim e cada não de um pai surge no amor, na tentativa de acertar, embora nem sempre se acerte. Quem de nós não desejaria entrar numa máquina do tempo para reagir de forma diferente em situações em que fomos incompreensivos com nossos pais? Mas se você é pai, também estou certo que desejaria – como eu – voltar a momentos onde nós fomos incompreensivos com nossos filhos.
Cada pai tem grandes expectativas para a vida de um filho. É natural que concentrem grandes esforços para que seus filhos sejam pessoas de sucesso profissional. Alguns não escondem suas expectativas e palpitam que seus filhos sejam advogados, engenheiros, médicos, militares, servidores públicos… Mas vários pais de hoje talvez nunca tenham imaginado as profissões que seus filhos exercem, pois muitas nem existiam há poucas décadas.
Filho, como é mesmo o nome de sua profissão? Pai, sou Web Designer, Operador de Telemarketing, Consultor de E-Business, Gerente de Redes Sociais, CEO, agente contra fraudes telemáticas…
Mas estas profissões também passarão. Só não pode passar o sentimento de que isto tudo é acessório em nossa vida e que o esforço da educação deve se concentrar no essencial, aquilo que não se obtém com carreiras e títulos. É de nossa obrigação explorar nossos talentos ao máximo e proporcionar estudo e oportunidades aos filhos, mas títulos e carreiras não podem ser o foco da paternidade. Queremos algo mais profundo para nossos filhos: a felicidade. Embora alguns se enganem que ela possa estar no sucesso, estou convicto que aí não está, bastando olhar para o alto índice de depressão e suicídios nos países ricos. Lembra-se o que Jesus respondeu ao jovem rico?
Ser bom pai é ser bom filho, de Deus. Pois em em Deus Pai temos a força para esta missão, ou melhor, para esta vocação. Uma vocação mesmo, pois educar os filhos faz parte do caminho de santificação dos pais, assim nos garante o Catecismo da Igreja Católica no parágrafo 1641. De modo prático, o dia a dia de um pai pode ser inspirado na famosa pintura de Rembrant, onde o pai que acolhe o filho pródigo apresenta a mão esquerda larga e musculosa, enquanto a direita é delicada e meiga. Uma mão que exige, cobra e até castiga. Outra que acaricia e cativa. Esse sim é um grande desafio, cuidar para que nossas mãos sejam assim.
Ser pai (assim também como ser mãe) é ficar frente a frente com nossa humanidade. É sendo pai que reconheço que não fui (e talvez ainda não seja) o bom filho que podia ter sido. É experimentar o desafio de ser exigente com amor, de conviver com o novo que se reinventa a cada geração e de semear valores em terrenos onde nem pisamos.
Como filho, agradeço ao meu pai o amor concreto, as noites mal dormidas, as horas extras no serviço, os desaforos engolidos diante dos patrões e por acreditar em mim, mesmo que eu não consiga corresponder. Como presente à ele, peço a graça de Deus para que sinta seu coração recompensado. E você como agradece ao seu pai?
Como pai, peço a sabedoria do Espírito Santo para que eu ajude meus filhos a serem exatamente aquilo que São João Bosco desejava para os jovens: bons cristãos e honestos cidadãos. Nada mais.