Tradição mariana é preservada em igrejas da Diocese

É tradição dos devotos de Nossa Senhora realizar, durante o mês de maio, a cerimônia de Coroação da imagem da Virgem Maria. Uma tradição iniciada no século XIII, mas solidificada apenas no século XIV, quando São Felipe Neri que começou a dedicar o mês de maio à Maria, homenageando-a com flores.

“A coroação de Nossa Senhora é um gesto de ternura e reconhecimento de que ela vive junto de Deus, nos ampara e nos auxilia. É uma maneira de manifestarmos a nossa devoção à Virgem Maria, através dos cantos, das flores e do gesto de colocar em sua cabeça uma coroa. Ainda que o façamos em uma imagem, ela representa a Mãe de Deus”, explica Padre Álisson Sacramento, Pároco da Paróquia Santo Antônio, em Tiradentes.

Vestidas de anjos – forma mais tradicional da coroação – as crianças fazem um verdadeiro céu na igreja, ofertando presentes com fortes simbolismos como a palma, que representa a pureza de Maria. Já o véu, recorda sua virgindade. A coroa, a realeza, afinal é a Mãe do Rei dos Céus.

Colocar alguns deste símbolos na imagem de Maria é algo emocionante, que marca a vida de quem pode vivenciar. “Já coloquei o véu, a palma e a coroa nas coroações em que participei e todas foram emocionantes. Havia uma preparação antes, onde ensaiávamos a música e delicadeza que colocaríamos o item na imagem. Eu sempre ia muito empolgada e me sentia honrada de poder participar. Eu vestia uma túnica branca e fazia um penteado bem bonito”, recorda Bárbara Santos Lara.

Para o devoto, coroar Nossa Senhora é demonstrar que a reconhece como rainha. Rainha de um reino que não é o desse mundo, mas o reino sonhado por Deus para seus filhos e filhas. Na história da vida humana de Jesus, Maria tem o papel fundamental. Seu “sim” sela a encarnação do Filho de Deus como homem e com sua aceitação ela demonstra que é possível uma pessoa fazer de sua vida uma constante escuta da vontade de Deus. “É uma forma de demonstrar o amor que sentimos”, esclarece Simone Isabel, devota de Nossa Senhora do Carmo.

Amor que vem de berço

Até hoje, trechos da canção “Maria de minha infância” do padre Zezinho , muito entoada nas coroações, fazem parte das recordações de muitos que, com grande alegria, nutriam um intenso amor a “mãezinha do céu”. “vestia de anjo. Minha mãe era muito participativa e ajudava a preparar as outras crianças”, recorda Eponina Carvalho, hoje, aos 82 anos.

Para quem não tinha asa de anjo, uma nova função exercia. Aparecida Faraco que o diga. Segundo a paroquiana de Minduri, nem as baixas condições financeiras impediam a demonstração de amor a Nossa Senhora. “Recitava poesias a Maria, mas nunca participei de uma coroação. Minha mãe conta que só as crianças que tinham a roupa completa (asa, tiara, etc) podiam participar. Como meus pais não tinham condições, observava”.

Mas não só de anjo vivi a criatividade das coroações. Sonia Aparecida Ferreira, por exemplo, não vestia de anjo, mas usava vestes claras para realizar o ato junto com sua turma da catequese. “Lembro dos vários ensaios para aprender os cantos. Era legal. Fazer uma homenagem a Nossa Senhora é muito importante, pois é mãe de Jesus. Há um tempo atrás em uma missa no santuário fui convidada para entrar com a imagem de Nossa Senhora do Pilar, em um momento de ação de graças. Eu não cabia dentro de mim de tanta emoção”, relata.

Filha de uma legionária, Elisângela Ferreira viu nascer, desde cedo, o amor pela mãe de Jesus e o gosto pela tradição mariana. “Minha mãe coordenava o terço nas casas durante o mês de maio e no encerramento ensaiava uma coroação que geralmente era blusa branca e calça azul. Costumávamos fazer tipo um altar na rua ou na garagem da minha casa e subíamos em cadeiras. Acho importantíssimo cultivar essa tradição de coroações no mês de maio. É uma forma de homenagear a Maria nossa mãe e envolver crianças, adolescentes e adultos”, destaca Ferreira que continua o legado da mãe, ensaiando crianças e ornamentando tronos para coroações.

 

Coroação é coisa de criança?

Mesmo sendo comum o ato religioso ser realizado por crianças, isso não se torna obrigatório. Homenagear Maria não tem idade, pelo menos é o que explica a catequista da Paróquia de Matosinhos, Andréa Mesquita. “Ao darmos o nosso sim a Jesus, no nosso Batismo, somos reconhecidos como filhos de Maria .Ela não escolhe idade, cor, raça para nós ajudar na hora que mais precisamos”, reforça Mesquita.

Prova disso é Michael Oliveira que, mesmo jovem, manteve esse costume no mês dedicado à Maria. “Nossa Senhora é tudo pra mim. Coroar significa elevar à dignidade real, aclamar, proclamar, eleger. Ter a ousadia de anunciar a todo mundo a soberania da Mãe do Senhor”.

Na Diocese de São João del-Rei, diversas paróquias estão promovendo, desde o dia 1º, coroações em homenagem a Nossa Senhora. A maioria acontece após as celebrações dominicais.