Via Sacra dos Seminaristas – Peregrinos de Esperança

I ESTAÇÃO – JESUS É CONDENADO, MAS NÃO DESESPERADO

Vinícios Sousa

Jesus está diante de Pilatos. Injustamente acusado, Ele ouve a sentença que o condena à morte. Os gritos da multidão ecoam em meio ao silêncio de sua entrega. Poderia se defender, poderia provar sua inocência, mas escolhe o caminho do silêncio e da obediência. Aos olhos do mundo, tudo parece perdido. O Messias, esperado como rei glorioso, agora se apresenta vulnerável, frágil, derrotado. Quem poderia enxergar esperança em meio a essa cena?

Quantas vezes também nós nos sentimos condenados por situações que não compreendemos? As esperanças que um dia nutrimos parecem se perder em meio às dificuldades, aos fracassos, às respostas que não chegam. Aquilo que sonhamos parece distante, as promessas que a vida nos fez parecem desfeitas. Olhamos para o futuro e, em alguns momentos, só enxergamos incerteza. O coração, cansado, se pergunta: ainda vale a pena esperar?

Nesta primeira estação, Jesus nos convida a olhar para a esperança que não morre, mesmo quando tudo parece perdido. Ele nos ensina que a esperança verdadeira não se apoia em circunstâncias favoráveis ou em resultados imediatos, mas na confiança silenciosa de que Deus conduz todas as coisas. Mesmo diante da condenação, Jesus não é um desesperado. Ele sabe que o sofrimento não é a palavra final. Existe algo maior em jogo, algo que os olhos humanos não podem captar: a fidelidade do Pai, que transforma a cruz em vitória.

Onde temos colocado nossas esperanças? Será que depositamos nossa confiança apenas no que podemos controlar, no que podemos ver e tocar? Ou temos coragem de confiar em Deus, mesmo quando não compreendemos os caminhos que Ele nos propõe? Rezamos hoje pelas esperanças que pareciam ter se perdido em nossas vidas. Apresentamos a Jesus as áreas de nossos corações onde a desesperança quer se instalar e pedimos a graça de crer que, mesmo nas condenações e aparentes derrotas, Deus ainda está agindo.

Jesus, ao aceitar a cruz, ensina-nos a não perder a esperança. Dá-nos olhos de fé para perceber que, mesmo quando tudo parece escuro, a luz de tua presença nos sustenta. Que não nos deixemos vencer pelo desânimo, mas saibamos esperar com confiança, porque Tu és fiel e não abandonas aqueles que em Ti confiam.

 

II ESTAÇÃO: JESUS CARREGA A CRUZ E NOS CONDUZ À ESPERANÇA

Bruno Reis

O ato de carregar a cruz não define Jesus como alguém derrotado, com um fim trágico e desesperançoso. Pelo contrário, Ele carrega a cruz, o peso de nossos pecados, na esperança. Apesar da dor e do sofrimento, sem garantias humanas, Ele age com confiança no Pai. Jesus é capaz de resignificar a dor; Ele transcende tudo o que de mal fizemos. Ele nos mostra que a esperança e a confiança caminham juntas, superando toda a dor e o desespero.

Jesus nos ensina a não nos abandonarmos nas dificuldades, mas a nos entregarmos à esperança, como Ele próprio fez. A esperança nos leva a não nos fixarmos no exaustivo caminho da dor, mas a enxergarmos além, para onde a plenitude da vida nos espera. A esperança não se manifesta na passividade de simplesmente deixar as coisas acontecerem, mas no movimento ativo de não nos estagnarmos e não deixarmos que as incertezas da vida nos dominem. É necessário darmos sentido à caminhada, à vida. A partir da esperança de Jesus, somos convidados a fazer o mesmo: carregar nossa cruz com esperança, dar novo sentido e destino ao nosso caminho. Devemos deixar que a esperança nos conduza, sabendo que, ao final, o que nos espera ultrapassa qualquer dificuldade.

Senhor Jesus, que carregaste a cruz por amor a nós, ensina-nos a confiar em Ti mesmo nos momentos de dor. Que a Tua esperança nos fortaleça e nos conduza ao verdadeiro sentido da vida. Dá-nos coragem para carregar nossa cruz com confiança, sabendo que, em Ti, a vitória sobre todo sofrimento nos espera. Amém.

 

III ESTAÇÃO: JESUS CAI PELA PRIMEIRA VEZ, MAS SE ERGUE NA ESPERANÇA

Mário Afonso

Jesus cai pela primeira vez, esta estação nos convida a refletir sobre nossa fragilidade humana e a esperança diante nossas dificuldades. Jesus ao cair por terra, nos dá um exemplo profundo de sua humanidade, pois Deus não pode cair; as quedas de Jesus são as nossas quedas. Caímos quando erramos, caímos quando nosso orgulho é desmascarado, caímos porque fracos, caímos quando somos imprudentes, caímos porque pretenciosos, caímos no pecado e caímos especialmente no desânimo.

Em nossa peregrinação rumo ao céu, sempre haverá quedas, assim como o Senhor em sua via dolorosa caiu mais vezes. Mas nós como exemplo de cristandade nos reergueremos através da esperança. Uma vez em que nossa esperança não está em pessoas terrenas, em influenciadores que são um alto destaque em nossa sociedade. Nossa esperança está em Deus, nossa esperança é Deus, e assim como o mestre fez, nós também devemos fazer, cair, mas se levantar abraçar a cruz com esperança e seguir em frente com coragem.

Assim renovados por esperança, tomamos a consciência de que mesmo que caímos a esperança não se esvai. Pela fé e oração, obtemos estímulos para manter viva a chama da esperança e cheios dessa esperança seguimos juntos, peregrinando rumo ao céu, pois ela não decepciona.

 

IV ESTAÇÃO: JESUS SE ENCONTRA COM SUA MÃE E SE RECORDA DA ESPERANÇA

Diego Cassiano

Nesta estação, contemplamos Jesus, carregando o peso da cruz, e encontra-se com aquela que sempre esteve ao seu lado, encontra-se com sua mãe, Maria. Esse momento entre eles revela um amor imenso e silencioso, uma ternura que é capaz de confortar mesmo diante da dor mais intensa. No olhar de Maria, Jesus encontra a força para continuar. Ela, como mãe, oferece a Ele a esperança que brota do amor e da confiança em Deus, mesmo em meio ao sofrimento e a dor.

Maria não pode tirar a cruz de seu Filho, mas pode oferecer o seu amor, a sua presença fiel e silenciosa. Nesse instante, a ternura de Maria é uma luz no caminho escuro do Calvário. Ela nos ensina que, em nossos momentos mais difíceis, o amor é uma força poderosa que nos mantém de pé. Maria, que sempre guardou tudo em seu coração, não desiste da esperança, pois sabe que a cruz de hoje não é o fim, mas é passagem para a ressurreição.

A ternura de uma mãe, como a de Maria, nos faz lembrar que, em nossas próprias cruzes diárias, também podemos encontrar esperança. Existem na nossa vida ternuras que nos fazem ter esperança? Um sorriso, um gesto de carinho, o apoio de alguém que se importa…essas pequenas ternuras nos ajudem a carregar nossas cruzes e a acreditar que o amanhã pode ser melhor.

Estar e rezar com Maria, que foi modelo de ternura e esperança, é pedir que ela nos ajude a ver além da dor, além das dificuldades. Que possamos assim como Maria, sermos firmes na fé, que nos impulsiona a seguir adiante, sabendo que o amor de Deus nunca nos abandonará. Assim como Maria estava ao lado de Jesus, ela também está ao nosso lado, nos sustentando e nos conduzindo ao encontro de seu Filho, Jesus Cristo. Maria, Mãe de Ternura, nos ensina a ter esperança e a sermos sinais de amor no mundo!

 

V ESTAÇÃO: SIMÃO CIRINEU AJUDA JESUS A RECOBRAR A ESPERANÇA

Sebastião Alan

Os soldados vendo o estado que Jesus se encontrava, temendo que Ele não aguentasse chegar com a cruz até o Calvário, para ali se concluir aquele suplício, começam a procurar alguém que tomasse parte em ajuda-lo a carregar a cruz. Mas ali, ninguém quis, pois a cruz era algo escandaloso.

Eis que vinha pelas estradas da vida Simão de Cirene, provavelmente estava retornando de seu trabalho no campo, e carregava os seus instrumentos de trabalho. Mal sabia ele que mais pela frente do trajeto, o Filho de Deus atravessaria o seu caminho: todo chagado, coroado de espinhos, coberto de sangue e carregando a Sua Cruz às costas. Vendo-o os soldados o forçaram a ajudar a carregar a Cruz de Jesus. Não sabemos como ele reagiu a tal requisição, mas sabemos que ele ajudou Cristo recobrar as forças e a esperança.

No Jesus que deixa ser ajudado, é nos mostrado que na vida, principalmente em momentos desafiadores, é que nasce a esperança. Meus irmãos, devemos nos perguntar: será que nós estamos sendo Simões Cirineus na vida dos outros? Será que estamos dispostos a ajudar a reacender esperanças? Será que estamos sabendo ser ajudados? Como é importante ajudarmos os nossos irmãos a se levantarem e suscitar ânimo, para assim recobrarem forças para traçarem rotas que levem a alegria e a paz.

Ó Senhor Jesus, que deixastes ser ajudado, dai-nos a graça de sermos sinais de esperança na vida das pessoas, novos Cirineus, que apoiados em Ti, ajudemos os nossos irmãos a não se deixarem serem vencidos pelo desanimo nos caminhos da vida. Amém.

 

VI ESTAÇÃO: VERÔNICA REVELA A ESPERANÇA EM UM ROSTO

Sérgio Patrocínio

Em meio à jornada angustiante de Jesus rumo ao Calvário, carregando o peso da cruz e suportando a crueldade dos soldados romanos, uma mulher piedosa chamada Verônica surge da multidão. Impulsionada por uma profunda compaixão e um amor incondicional, ela desafia a hostilidade do momento e se aproxima de Jesus. Com um gesto delicado e corajoso, Verônica usa um pano macio para enxugar o rosto ensanguentado, suado e marcado pela dor da Paixão.

Esse ato de amor e misericórdia ultrapassa a simples ação de limpar um rosto. Ali naquele instante se torna um símbolo poderoso de esperança em meio ao sofrimento. Verônica, ao se aproximar de Jesus para aliviar sua dor, demonstra compaixão e solidariedade em sua forma mais pura. Em um momento em que a escuridão da injustiça e da violência parecia prevalecer, ela acende uma chama de esperança, lembrando-nos da capacidade humana de amar e se importar com o próximo, mesmo nas circunstâncias mais adversas.

A atitude de Verônica nos ensina que a esperança não é apenas um sentimento passivo, mas uma força ativa que nos impulsiona a agir em prol do bem. Ela nos mostra que, mesmo diante da dor e do sofrimento, podemos escolher a compaixão, a coragem e o amor. Seu gesto nos convida a sermos portadores de esperança, a levarmos luz aos lugares sombrios e a lembrarmos que, mesmo nos momentos mais difíceis, a bondade humana pode prevalecer.

Que a esperança não seja apenas palavra, mas sim atitude transformadora. A exemplo de Verônica, que com um gesto simples e compassivo aliviou o sofrimento de Jesus, sejamos nós também agentes de mudança, semeando a esperança através de nossas ações e construindo um mundo mais justo e fraterno.

 

VII ESTAÇÃO: JESUS CAI E PRECISA DE ESPERANÇA

Jordano Paulo

Ao contemplarmos Jesus caído sob o peso da cruz, reconhecemos que Ele assume nossas dores mais profundas. Sua queda sinaliza a realidade de todos os que se encontram prostrados, por enfermidades, limitações ou dependências. No entanto, esse momento doloroso também se torna passagem de luz quando percebemos que, mesmo em meio às feridas, o amor de Deus se faz presente.

Em nossa história pessoal, muitas vezes nos sentimos como quem não consegue acreditar numa vitória sobre o sofrimento, a menos que enxerguemos sinais concretos de superação. É nesse instante que, curiosamente, nossas próprias feridas podem se tornar ponto de encontro com o Mistério divino. Quando reconhecemos nossa vulnerabilidade, abrimos caminho para que o toque amoroso de Deus transforme a dor em possibilidade de crescimento, sem fingir que o sofrimento não existe.

Desse modo, não se trata de fugir da fragilidade, mas de acolhê-la como espaço onde podemos reencontrar a força de seguir adiante. Assim como quem insiste em ver antes de crer, também nós necessitamos de gestos palpáveis de esperança. E é na dor assumida com honestidade que descobrimos como Deus caminha ao nosso lado, iluminando nossas sombras e convidando-nos a reerguer o olhar.

Compaixão e solidariedade se fazem essenciais nessa jornada. Muitos estão à nossa volta, caídos e sem forças. Podemos ser presença de esperança para eles, oferecendo não apenas palavras de ânimo, mas nossa atenção concreta e nossa fé, que se expressa em atos de cuidado. Quando estendemos a mão ao outro, também tocamos a força que sustenta nossa própria esperança.

Oremos para que cada pessoa que se encontra prostrada — pela doença, pelo desânimo ou por qualquer forma de limitação — descubra, em sua experiência de dor, a possibilidade de um encontro transformador. Que todos sintamos o toque da graça divina em nossas feridas, de modo que renasça em nós a certeza de que não estamos sozinhos. E que, sustentados por esta esperança, possamos caminhar com firmeza na direção de uma vida renovada.

 

VIII ESTAÇÃO: JESUS CONSOLA E OFERECE ESPERANÇA

Giovane Ferreira

Na oitava estação, Jesus em meio à sua dolorosa caminhada, encontra as mulheres de Jerusalém que choram por Ele. Mesmo em sua própria agonia, Ele se volta para elas com compaixão, trazendo uma mensagem de esperança e consolo. “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai, antes, por vós mesmas e por vossos filhos!” (Lc 23,28).

Essa cena nos convida a refletir sobre a importância da empatia e do cuidado com aqueles que estão ao nosso redor. As mulheres, ao verem o sofrimento de Jesus, expressam sua dor e preocupação. No entanto, mesmo em meio à sua própria angústia, Ele se torna um farol de esperança para aqueles que choram e precisam de consolo. Jesus, ao longo de sua vida, sempre se mostrou próximo dos que sofrem. Ele ouviu os lamentos dos aflitos, curou os doentes e alimentou os famintos. Hoje, nós também somos chamados a ser instrumentos de consolo. Precisamos olhar ao nosso redor e perceber quantas pessoas estão carregando fardos pesados, chorando em silêncio por dentro, pessoas que já não tem mais esperança. Nossa missão é ser a presença de Cristo em suas vidas, oferecendo-lhes não apenas palavras de conforto, mas também ações concretas que tragam alívio e esperança.

Que nesse ano jubilar possamos ser agentes de esperança, levando conforto aos corações aflitos e ajudando a construir um mundo mais justo e acolhedor. Que possamos lembrar que a esperança não está perdida; ela se renova a cada dia. Jesus nos ensina que mesmo nas horas mais sombrias, há luz e amor esperando para serem espalhados. Que possamos ser portadores dessa luz, levando consolo aos corações aflitos.

Senhor Jesus, neste momento de meditação, queremos Te agradecer pela Tua compaixão e pelo Teu amor incondicional. Que possamos aprender com Teu exemplo, acolhendo os que sofrem ao nosso redor. Ajuda-nos a ser vozes de esperança em meio ao desespero. Concede-nos um coração sensível às necessidades dos outros e a coragem para agir em favor daqueles que estão em dor. Que nossas palavras e ações sejam reflexos do Teu amor e da Tua luz. Amém.

 

IX ESTAÇÃO: JESUS CAI PELA TERCEIRA VEZ

Olímpio Longatti

Do Salmo 37: “É o Senhor quem firma os passos dos mortais e dirige o caminhar dos que lhe agradam; mesmo se caem, não ficarão prostrados, pois é o Senhor quem os sustenta pela mão.”

Estimados irmãos, o dia vai seguindo seu transcurso e com ele seguimos o Cristo até a derradeira hora da nossa Redenção. Eis o que meditamos: Jesus já está próximo de alcançar o Gólgota, mas suas forças se esvaem. A jornada é longa, o caminho é pedregoso, o desânimo e o cansaço o acompanham. Pela terceira vez, o Senhor vai ao chão, oprimido pelo pesada Cruz. Sua missão ainda não está cumprida, as dores são tremendas e o fardo massivo, por pouco não são estes os seus últimos suspiros.

Meus caros, na Via Dolorosa, é simbólico que o Cristo não tenha caído apenas uma vez, mas três, conforme nos relata a tradição, ou até mais, como podemos imaginar. Isso nos fala muito da trajetória da nossa vida. Em não poucos momentos de nossa existência somos impelidos a caminhar pela nossa Via Dolorosa, e tal qual o Senhor, caímos uma, duas, três vezes. Se Cristo caiu pelos pecados de outros, nós caímos pelo peso dos nossos próprios. Quando tomamos consciência de nossa queda e de seus motivos, sentimos a vergonha e o desânimo, assumimos um sério risco de uma queda ainda maior: a perda de sentido.

Vivemos em um mundo complexo: o progresso de uma cultura tecnocrática, os ciclos da História se repetindo e os rumos que a sociedade vai tomando corroboram para aumentar essa sensação de vazio de sentido. Na verdade, percebemos que somos homens em queda e não caímos sozinhos, ainda levamos outros conosco. Entretanto, se o desespero pode parecer abundante, muito mais forte é a Esperança que o amor de Deus derrama em nossos corações. É o amor que nos ensina que as quedas não encerram o caminho, mas fazem parte dele. É o amor que testemunha a vitória sobre a opressão, o pecado e a morte, vitória esta alcançada no patíbulo da Cruz. É o amor derramado em nossos corações, a força motriz que o Espírito Santo traciona sobre cada um de nós, que vem em socorro de nossas fraquezas, nos ajuda a levantar e seguir o caminho. O amor nunca acabará, ele dá sentido à nossa queda e ao nosso reerguimento. O amor dá sentido à nossa vida, nos sustenta pela mão e nos recorda que é preciso esperar contra toda esperança.

Ó Deus, cujo amor é sem medidas e cuja misericórdia é sem limites. Na terceira queda de vosso Filho, vemos assumidas mais vivamente todas as nossas quedas. Derramai o vosso amor em nossos corações para que, esperançosos, nos levantemos sempre para uma vida nova. Amém!

 

X ESTAÇÃO: JESUS É DESPIDO, A ESPERANÇA ARRANCADA

Jonas Marciel

Nesta estação, contemplamos o Cristo despido de suas vestes. Está aqui o Cristo nu, ultrajado, maltratado relegado à vergonha pública. Deus, que vestiu toda a criação de beleza e de cor, encontra-se despido pela rebeldia e pelos que repudiam a Deus e à verdadeira fé. O autor do canto e da harmonia é calado e silenciado pela fragilidade do corpo humano, pela sua verdade nua e crua, pelo medo e pela necessidade de ocultação. Cristo exprime em si a dor do pecado e da vergonha. Os primeiros pais fogem da face de Deus. Cristo se mostra à face humana.

Está aí a verdade de seu anúncio: pelo pecado o homem fere a sua dignidade, reduz seu corpo a um fim em si mesmo, degrada-se e se expõe à vergonha e confusão. É somente o amor extremado capaz de trazer novo significado à nudez do homem, à sua dignidade radical de ser humano e ao mistério da doação de si. A nudez de Cristo é imagem da entrega total, do amor que se dá totalmente, da pureza e da comunhão perfeita e íntima com Deus. Deus nos ama.

No coração do homem, tantas situações roubam as vestes. O anúncio de si, o consumo de bens, a mediocridade da vida. Corre-se o risco de mentir a si mesmo, conformar-se com a superficialidade, não avançar para as águas mais profundas – perder-se e perder as vestes da dignidade, da beleza de filhos de Deus. Temos a esperança arrancada. Ou mesmo arranca-se a esperança da vida à volta de si, quando os ciúmes ferem as relações humanas, as fantasias ofuscam a boa conduta alheia, a própria banalidade mata as aspirações mais elevadas do próximo. As esperanças são minadas da vida.

É preciso reencontrar-se com o Cristo nu, em sua fragilidade e força, em sua nudez que aponta para a esperança de uma vida em Deus. Estar nu, despido das próprias vestes, mostra o reconhecer-se inteiramente, ferido e sem falsidades, aceitando a verdade de si à luz da verdade de Deus.

 

XI ESTAÇÃO: JESUS É PREGADO NA CRUZ

Luís Alberto

Contemplamos, na XI estação, as mãos e os pés de nosso amado Redentor atados ao patíbulo da cruz. Despojado de suas vestes, abandonado ao sofrimento e condenado como um criminoso, para os olhos humanos, este é o fim trágico de um homem que falhou em seu projeto. Contudo, onde tudo parece perdido, onde tudo é sinal de morte, a esperança ressurge de maneira sublime. Aliás, é próprio da esperança nascer nas situações mais inusitadas e nos momentos em que tudo parece devastado.

Na cruz, contemplamos a esperança de Jesus, que não se deixou amarrar pela maldade e pela violência humana. Em vez de revidar o mal na mesma proporção, a esperança nascida da cruz concedeu aos malfeitores o dom do perdão: “Pai, perdoa-lhes: não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Onde tudo parecia encerrar os gestos libertadores de Jesus, a esperança que ressurge em seu coração o impulsiona a doar-se ainda mais: entregou-se livremente por amor a cada um de nós (Gl 1,4). Onde a cruz aponta para a escuridão da morte, as palavras de Jesus ao bom ladrão nos dão a esperança de que, após o evento do Calvário, há um paraíso e uma vida eterna para todos aqueles que não se deixam dominar pelas amarras do pecado: “Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43).

A esperança cristã, portanto, não é um frágil otimismo que se desfaz diante das circunstâncias de sofrimento da vida, mas uma certeza enraizada na vitória de Cristo sobre o pecado e a morte.

Ainda que o mundo motive o ser humano a curvar-se sob o peso de suas próprias dores, das injustiças e da maldade, a esperança que brota da cruz impulsiona os discípulos de Jesus a contemplar a vida para além do instante e das circunstâncias dolorosas, sempre sustentados na certeza de que a morte não tem a última palavra.

Ainda que tudo ao redor pareça ter fracassado, o discípulo não é prisioneiro do medo, pois sua confiança repousa naquele que disse: “Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (Jo 11,25).

 

XII ESTAÇÃO: JESUS MORRE NA CRUZ: UMA ESPERANÇA TOTALMENTE ENTREGUE

Gabriel Antônio

Jesus morre na cruz. A vida se apaga aos olhos do mundo, mas ali se acende, para nós, um sinal que atravessa os tempos: a entrega de um amor que não recua, mesmo diante da dor. Neste tempo de esperança que vivemos como Igreja, a cruz se torna um ponto de referência para nossa fé. É olhando para ela que entendemos que a esperança não nasce de momentos fáceis, mas da certeza de que Deus caminha conosco, mesmo quando tudo parece difícil.

Há momentos em que a vida pesa. Situações que nos quebram por dentro, perdas de pessoas amadas que nos deixam sem chão, lutas que parecem não ter fim. E, nesses momentos, a cruz nos fala. Fala de um Deus que se deixou atingir pela dor, que assumiu o sofrimento humano até o fim, e que, mesmo assim, permaneceu fiel. A morte de Jesus não nos afasta da vida. Pelo contrário, ela nos ensina a enfrentá-la com coragem. Ensinou-nos que mesmo no silêncio e no sofrimento, é possível confiar. E que a esperança verdadeira não é frágil, não depende do que sentimos ou enxergamos, mas se apoia na presença de um Deus que nunca nos abandona.

Na cruz, Jesus nos mostra que a esperança é possível mesmo quando tudo parece escuro. Ele não respondeu ao sofrimento com revolta, mas com confiança. Não se fechou em si, mas abriu o coração até o fim. E é esse testemunho que nos sustenta. Diante da cruz, aprendemos que a dor não é sinal de ausência de Deus, mas muitas vezes, o lugar onde Ele mais nos sustenta. A cruz nos fortalece, nos ensina a atravessar os dias difíceis sem perder o rumo, sem ceder ao desânimo, sem deixar de confiar.

Hoje, queremos olhar para Jesus e pedir: ensina-nos a esperar como Tu esperaste. Ensina- nos a permanecer firmes quando tudo parecer difícil. Dá-nos, Senhor, a esperança que brota da cruz — aquela que não se ilude, mas que resiste, que sustenta, que consola.

Jesus morreu na cruz. Mas o que parecia fim, para nós, se tornou força. E é essa força que queremos levar no coração, enquanto seguimos nossa caminhada como peregrinos, sustentados pela esperança que vem de Ti.

 

XIII ESTAÇÃO: JESUS É LIBERTADO DA CRUZ PARA QUE A ESPERANÇA SE RENOVE

Jeferson Coimbra

O coração bom e justo de José de Arimateia faz com que ele liberte do madeiro o corpo já inerte do Senhor crucificado. Talvez, para muitos, esse gesto seria o desfecho de uma história de fracasso, de derrota, de sonhos e ideais que se perderam na utopia de um Reino anunciado que, por hora, personificado naquela carne sem vida, seria sepultado na frieza do túmulo. Acabou-se a Esperança, que cede seu lugar à decepção. Teria o Apóstolo Paulo mentido ao dizer que um coração esperançoso não se decepciona? Talvez, quem se acostumou ao pessimismo ou quem já se cansou de sofrer com os desapontamentos que a vida impõe, possa deixar-se levar por esse viés.

Mas é necessário um olhar curado que enxerga, para além das aparências, a vontade do Pai que está latente até mesmo naquilo que não se compreende. Por isso, na verdade, o corpo descido da Cruz é um sinal profético de que nem os pregos, nem as contrariedades, nem as decepções da vida, nem a morte ou a doença podem prender a esperança que o Pai nos deu em Cristo, nossa paz e nossa salvação.

Este corpo eximido da Cruz seguirá o seu caminho para que, em breve, quando, ressuscitado pelo Pai na força do Espírito Santo, proclame o hino da vitória na luta travada contra o pecado e a morte. Esse cântico vitorioso da Ressureição deve envolver a todos nós, renovando-nos a partir de dentro com a luz da esperança, nossa companheira fiel vida, da qual tomamos parte como peregrinos.

Nossa prece, neste passo da Paixão, deve ser a de que não sejamos pessoas acanhadas quando o assunto é cooperar para que a Esperança mova as pessoas a seguirem em frente nos caminhos que as esperam. Quando percorridos com Cristo, por mais incompreensíveis, desafiadores ou diferentes que sejam, sempre chegarão no propósito querido por Deus, Ele que dá segurança à nossa vida e nos envia a proclamar a fonte viva e renovadora da Esperança que todos podem tomar parte junto ao coração do Ressuscitado.

 

XIV ESTAÇÃO: JESUS É SEPULTADO, A ESPERANÇA PLANTADA NO SEIO DA TERRA

Jordano Paulo

Jesus, depois de tanto sofrimento, é colocado no sepulcro, como semente que desce à terra. A cena pode parecer encerramento definitivo; contudo, há um dinamismo oculto que se manifesta na expectativa de algo novo. Este momento não é apenas um intervalo de luto, mas sim um chamado à confiança: não se trata de aguardar passivamente, mas de manter acesa a chama que antecipa o amanhecer.

O sepultamento nos convida a perceber que, mesmo na escuridão, a vida prepara-se para brotar. A esperança nos coloca em diálogo com o futuro que ainda não vemos, mas que, paradoxalmente, já habita o nosso presente. Assim como o grão de trigo que morre para produzir fruto, Cristo entra na terra para inaugurar a possibilidade de uma realidade renovada.

Quando confrontados com a morte — seja de pessoas queridas, seja de sonhos —, podemos cair no desalento. A fé, porém, recorda que a esperança não anula a dor, mas a abraça, reconfigurando nossa compreensão do tempo. Por meio dessa atitude, percebemos que os sinais de ressurreição não se restringem ao último dia; eles já se insinuam no cotidiano de quem crê. É a dinâmica de antecipar, em cada gesto amoroso, um horizonte de plenitude.

Tal esperança, diferente de uma espera inerte, impele-nos a agir e viver de forma renovada. Em vez de nos conformarmos com aquilo que é — como se o que existe fosse destino fechado —, abrimo-nos à perspectiva de que o futuro de Deus afeta e renova o presente. Esse impulso ganha força justamente no instante em que tudo parece acabado, pois o verbo “esperar” se encarna na disponibilidade de quem olha além dos limites visíveis.

É inevitável que nos perguntemos onde depositamos nossa esperança. Se ela estiver alicerçada em conquistas passageiras, sucumbirá diante das primeiras tempestades. Mas, se estiver apoiada na promessa de que o amor não se deixa aprisionar em um túmulo, então ela se tornará fonte de perseverança. Não se trata de fechar os olhos à realidade, mas de encarar o sofrimento com a confiança de que a vida não termina no deserto do agora. A fé na vida eterna não remete apenas ao porvir distante, mas inspira força para o presente.

Oremos para que, ao vermos Jesus sepultado, nos recordemos de que cada semente precisa ser enterrada antes de florescer. Que saibamos viver esse “já e ainda não” com profundo senso de responsabilidade e solidariedade, plantando sementes de esperança onde só se vê aridez. Possamos, então, vigiar na fé, certos de que o Senhor, cuja presença se oculta na terra escura, germinará vida e renovará nossa alegria, afinal, Deus é nossa esperança; e não nossa posse.

Nesse silêncio fecundo, nossa esperança ganha raízes firmes, pois se ancora no Mistério que transforma o túmulo em berço de uma realidade definitiva e cheia de sentido. Que essa certeza ilumine não apenas nosso futuro, mas cada instante do presente, gerando em nós atitudes que testemunhem a força do amor que abraça, cura e faz renascer.

 

* Essas reflexões foram produzidas para a Peregrinação dos Seminaristas ao Santuário da Santíssima Trindade, em Tiradentes, durante a quaresma de 2025. Mais informações, conferir aqui.