Tradição secular, Ofício de Trevas será realizado nesta quarta-feira, 27, em São João del-Rei

Uma tradição secular da Igreja Católica será realizada mais uma vez na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, em São João del-Rei. O Ofício de Trevas marca a Semana Santa na histórica cidade de São João del-Rei. A cerimônia é dividida em três partes e é realizada na quarta, sexta e sábado da “Semana Maior” do cristão. Preservado por mais de três séculos, o antigo Ofício Divino é todo entoado em latim e repleto de simbolismo e peculiaridades como a execução dos responsórios compostos por padre José Maria Xavier e que são alternados com o Coro Gregoriano.

Muitas cidades têm buscado resgatar o Ofício que deixou de adentrar muitas programações pelo mundo após o Concílio Vaticano II e a reforma das normas da Igreja Católica. Diferentemente, São João del-Rei permaneceu no costumeiro rito, realizando-o três vezes em cada ano. “São João del-Rei conservou na sua totalidade os três ofícios: o primeiro realizado na Quarta-Feira Santa à noite. Os outros dois, chamados de Matinas e Laudes, ocorrem nas manhãs de Sexta-Feira da Paixão e Sábado Santo”, explica Monsenhor Geraldo Magela da Silva, pároco da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar.

 “Luz et Tenebrae: A luz do Ofício de Trevas”

Para manter a tradição viva, destacar a memória, possibilitar o entendimento e a propagação, além de mostrar a valorização cultural que atravessa diferentes gerações, foi lançado em 2020 o documentário “Luz et Tenebrae: A luz do Ofício de Trevas” que apresenta passo a passo da celebração com sua peculiaridade e preservação histórica.

A produção audiovisual, produzida e dirigida por Lucas Silveira, é ancorada numa narrativa de pessoas diretamente envolvidas com a cerimônia: o padre, o regente da orquestra, o regente dos coroinhas e o comentarista sacro. Relatos que apresentam vidas, mesclam com a originalidade e a valorização do costume por parte da comunidade.

 

O nome “Ofício” significa que ele faz parte da Liturgia das Horas. Já a expressão “de Trevas” vem da meditação sobre os sentimentos experimentados por Jesus em sua Paixão. A celebração é atualmente, um fato cultural e artístico, muito significativo, que atrai todos os anos grande número de pessoas da comunidade e turistas. Pessoas que buscam mais que religiosidade, mas, costumes, histórias e tradições. Riquezas culturais.

Durante o rito, as atenções são voltadas para o tenebrário, um grande candelabro triangular, com 15 velas, situado ao lado direito do altar. Ao final da leitura de cada salmo, uma vela é apagada. Apenas uma vela, no vértice, é mantida acesa e levada para trás do altar. Esta vela representa Jesus Cristo, a luz do mundo, que nunca se apaga.

Quando a vela está escondida, todas as luzes da igreja são apagadas. É o momento das trevas, na qual os fiéis batem com o pé no assoalho, fazendo um estrondo barulho. Em seguida, as luzes são novamente acesas, anunciando que Cristo ressuscitou. É uma forma diferente de catequizar o mistério da Páscoa. “O Ofício de Trevas reforça a luz da ressurreição de Cristo, significa que ele venceu a morte e está no meio de nós. Isso nos dá força para conviver com os sofrimentos da vida e se comprometer com o amor e a justiça nesta vida que será plenificada na ressurreição”, pontua Monsenhor Geraldo.